Se você passou por um trauma na infância, pode ser uma surpresa que os problemas traumáticos que você teve quando era pequeno ainda estejam presentes mesmo já sendo adulto.
Você provavelmente pensou que já tinha acabado e que havia superado esse trauma, mas ele pode estar repercutindo em sua vida adulta, fazendo você sentir que tudo está de cabeça para baixo de novo, mesmo que tenha feito o melhor para seguir em frente.
De repente ficou à beira do pânico, a ansiedade voltou, os sentimentos deprimidos começaram a tomar conta e a vontade de se trancar no quarto até que tudo passe começou a aparecer de novo.
Isso é algo muito comum em pessoas que sofreram traumas na infância e pode afetar negativamente no trabalho, nos relacionamentos e em outros caminhos da sua vida adulta. Por isso, deve estar se questionando: “Como eu resolvo isso? O que eu faço?”. Se esse for o caso, continue lendo este texto.
O que é um trauma não resolvido?
Você disse a si mesmo que está tudo no passado e que seguiu em frente e até fez terapia. Como você ainda pode estar sofrendo?
Quando você é traumatizado quando criança, isso vive dentro de você e poderíamos até dizer que “se instala em seus ossos”. As memórias, mesmo se afastadas e não conscientes, estão gravadas em seus sintomas, em suas lutas de relacionamento e em sua autoestima ruim.
Muitas crianças traumatizadas sentem que sempre estiveram sozinhas e fazem o melhor que podem para resolver as coisas por si mesmas. O problema é que há muito que você pode fazer sozinho e é por isso que os efeitos mais profundos dos traumas da infância geralmente ficam “não resolvidos”.
Infelizmente, isso pode acontecer mesmo que tenha feito terapia já que muitos terapeutas não são especialistas em traumas de infância, e é isso que você precisa para ser alcançado no centro de suas primeiras experiências.
As raízes do seu trauma de infância, infelizmente, permanecem sem solução e os sintomas disso podem ficar escondidos por um tempo, mas o estresse que causa uma reviravolta emocional ou um evento que serve como um lembrete muito próximo de seu trauma anterior pode colocá-lo de volta nas experiências originais.
Por que “o passado” nem sempre é o passado
Embora seu trauma esteja tecnicamente “no passado”, experiências traumatizantes na infância não podem ser deixadas de lado até que as maneiras como elas vivem em suas experiências, sintomas e relacionamentos atuais sejam profundamente compreendidas.
Freud disse que temos uma “compulsão por repetir”, mesmo que tentemos não fazê-lo. É por isso que você pode se encontrar em relacionamentos que o lembram daqueles que o traumatizaram no passado.
Por isso, existem muitas formas diferentes que seus sintomas ou comportamentos podem assumir e o importante é ter em mente que o passado nunca é “apenas” o passado. Até que você tenha ajuda para descobrir exatamente como as raízes de seu passado estão vivas no presente, seu trauma de infância pode permanecer “não resolvido”.
O que causa traumas na infância?
Às vezes – como no abuso físico ou sexual – o trauma é bastante óbvio, mas existem muitos tipos que você pode não identificar como trauma, por exemplo:
- Negligência (não ter suas necessidades atendidas quando criança)
- Perda de um dos pais
- Passar por momentos que envolviam doenças graves
- Dificuldade de aprendizado, fazendo-o duvidar de si mesmo
- Ter muitos irmãos
- Ter um pai distante
- Ter pais emocionalmente indisponíveis ou ansiosos
- Traumas transgeracionais
Seja qual for a causa, de alguma forma, suas necessidades não foram vistas e isso continuou ardendo dentro de você. Se sua tristeza, raiva ou outro sentimento não foi ouvido ou permitido na infância, essa emoção viverá ainda mais significativamente dentro de você pois a única coisa que precisava (ou ainda pode precisar), era de uma chance de chorar.
Alguns casos que exemplificam os de cima são:
- Sofrer com negligência – A negligência na infância significa que suas necessidades emocionais ou físicas não foram atendidas e isso pode ser porque seus pais estavam sobrecarregados e preocupados ou por que, simplesmente, não ligavam mesmo.
- Passar por doenças na família – Isso pode fazer com que eles esperem que você seja o “pai” e que cuide das outras crianças ou que faça muito mais tarefas domésticas do que qualquer criança deveria.
- Perder um parente ou amigo próximo – É possível que, ao perder alguém enquanto você era criança, acabou por desenvolver um medo da perda e, por isso, teme até hoje em se afeiçoar por qualquer pessoa já que ela pode significar uma futura perda dolorosa.
- Sofrer com uma doença grave na infância – Você, provavelmente, foi isolado em casa ou hospitalizado e isso significava ser removido das atividades sociais normais e você provavelmente se sentia sozinho e, talvez, até preocupado em ser visto como diferente. Por isso, pode se sentir menos socialmente confiante e não ter certeza se irá se encaixar.
- Ter muitas dificuldades para aprender – Se você passou por dificuldades de aprendizado (como dislexia, TDAH, etc.), provavelmente se sentiu diferente, se comparou ou foi comparado com outras crianças e parentes. Graças a isso, você tem uma percepção muito negativa de si mesmo e sente que, mesmo que tenha se esforçado muito, lutando contra desafios que não podia controlar, não é suficiente. É possível ainda que você seja muito perfeccionista, tentando sempre agradar, mas nunca se sentindo bem o suficiente.
- Ter muitos irmãos – Você é um em uma família de muitas crianças? Parecia que nunca havia o suficiente para todos? Esse é frequentemente o caso em famílias com muitos filhos. Os recursos são limitados e sua mãe estava cansada, sitiada e preocupada apenas com os seus irmãos que pareciam sempre precisar de mais do que você. Existe também a possibilidade de você ser o mais velho e ter que cuidar dos mais novos.
- Ter um pai inacessível e distante – As crianças precisam ser vistas, ouvidas, abraçadas e valorizadas e, por isso não ter acontecido, talvez você esteja desconfiado de suas necessidades e incerto de ser amado. Talvez tenha aprendido a ficar distante e a não esperar muito dos outros.
- Ter um pai ansioso – Conviver com um pai que tinha medo de tudo, que esperava catástrofe, que se escondia das pessoas ou que não confiava em ninguém pode penetrar nos poros de uma criança e deixá-la traumatizada, constantemente preocupada e fazê-la viver com os mesmos tipos de ansiedade que seu pai teve, mesmo sem saber que aconteceu.
- Trauma transgeracional – Se sua mãe ou seu pai teve uma infância traumática e esse trauma também não foi resolvido, ele é passado de pai para filho, de mente inconsciente para mente inconsciente.
Como isso afeta você enquanto um adulto?
O trauma da infância às vezes pode repercutir em sua vida adulta porque, não importa o quanto você tenha tentado continuar, ainda há uma criança traumatizada vivendo dentro de você. Se você não teve ajuda suficiente, ou o tipo certo de terapia para resolver seu trauma, essa parte infantil que está aí dentro ainda carrega o seu sofrimento.
Seu trauma de infância vive em você e aparece na forma de depressão, ataques de pânico, transtornos alimentares, preocupações obsessivas, ansiedade, medo de relacionamentos, dificuldades em confiar, baixa autoestima, medo de ser julgado, tentativas constantes de agradar, explosões de frustração, etc.
Traumas de infância podem ser curados?
Sim, traumas de infância não resolvidos podem ser curados através da terapia com alguém psicanalítica ou psicodinamicamente treinado para lidar com esses traumas infantis.
Uma resposta sensível, gentil e empática é o que você precisa. A criança traumatizada que ainda vive dentro de você tem que se sentir segura e vista.
No entanto, a empatia não é tudo, você também precisa de alguém com experiência e conhecimento sobre traumas de infância e como isso afeta sua vida. Alguém que vê os efeitos muito específicos em você.
Você não tem que viver com o aumento dos sintomas que repercutem sob estresse ou lembretes desagradáveis. Quando você tem esse tipo de terapia e pode se dar o tempo necessário, você se curará de traumas de infância não resolvidos e passará a ter uma vida muito mais leve.
Fonte: Michigan ACE Initiative
