O luto e a saúde mental

Nos últimos tempos, os pets ganharam status de membros da família. É natural, portanto, que sua morte gere um processo de luto e ele pode ser profundo a ponto de abalar o bem-estar mental.

Um artigo na revista Popular Science veio para investigar e confirmar aquilo que muitos de nós já sabemos na prática: a morte de um animal de estimação pode ser tão ruim ou mesmo pior que a perda de um parente ou amigo.

Baseado em dados americanos – que podem, no entanto, serem totalmente aplicados ao Brasil, com variações em eventuais porcentagens, mas não em intensidade – o artigo explica que a perda de um animal costuma ser nosso primeiro enfrentamento direto com a morte.

A decisão que quase sempre se toma pela eutanásia do bicho em sofrimento, ainda que seja totalmente para seu bem, pode trazer o acréscimo do sentimento de culpa sobre a dor da partida.

Não é exagero dizer que um animal de estimação interfere diretamente na maneira como moldamos nossa vida – nossos horários, viagens, nossos custos, a maneira de ser e funcionar de uma casa, e muito mais.

O animal se tornou parte real da família e a confirmação também pode ser científica: quando olhamos nos olhos de um bicho, indica o artigo, pode se reconhecer a liberação de ocitocina tanto em nós quanto no animal, também conhecido como “o hormônio do amor” – o mesmo hormônio liberado quando pais olham para seus filhos bebê.

Outros fatores, no entanto, intensificam tal sentimento: enquanto a perda de uma pessoa pressupõe diversos rituais que podem ajudar no atravessamento do luto, a perda de um animal e a exposição de tal dor não são bem vistas pela sociedade.

Os animais, porém, dividem conosco nossa casa, nossa intimidade, nossas sentimentalidades. Mais do que a afirmação de ideias, o fato é que a perda de um bicho pode ser traumática e intensa, e aceitar a existência de tal processo é o princípio para se melhor atravessá-lo – e o jeito mais empático de se lidar com a dor alheia.

 

Mas quando o luto se torna doença?

Patrícia Bittencourt, psicóloga e palestrante explica que alguns autores ressaltam que até dois anos o enlutado pode sentir-se triste, ter insônia, se sentir angustiado, ter crises de choro ou ansiedade, podendo vir sentimentos de culpa e raiva em alguns momentos, porém esse processo é  considerado luto normal.

Quando esses sintomas passam desse tempo ou se agravam ou a pessoa nega a morte do ente querido a todo custo, é necessário procurar uma ajuda médica especializada de um psicólogo e/ou um psiquiatra.

Ou seja, quando a fase natural fica intensa, mais contínua que o habitual.  Neste caso o processo do luto vira luto patológico.

O luto patológico se diferencia do luto normal quando as reações emocionais graves  desencadeadas pelo processo interferem na capacidade da pessoa ter uma vida normal.

É quando a criança tem dificuldades em retomar sua vida depois da perda, quando todos os pensamentos e atos são estritamente relacionadas a essa perda. A partir daí, começam a ter prejuízos, perdem a vontade de ir à escola ou trabalhar, de interagir com outras pessoas, de fazer atividades rotineiras, evitar contato com outros animais, ou até mesmo apresentam comportamentos de isolamento e tristeza extrema.

A perda de um animale seu luto podem desencadear muitos problemas na saúde mental.

 

O que pode ser desencadeado pelo luto:

  • Depressão;
  • Ansiedade;
  • Isolamento social;
  • Insônia.

 

Tratamento

Os recursos são procurar ajuda médica e psicológica para que a pessoa possa encontrar um novo sentido à vida. A psicoterapia ameniza os sintomas e, de preferência, procurar especialistas que lidam com a situação do luto. O objetivo da terapia é restaurar a autoconfiança, o entusiasmo.

Outro objetivo importante com esse tratamento é que se reflita sobre a morte sem evocar a culpa, ansiedade ou revolta. Participar de grupos de apoio, esportes, religiões, viagens também é recomendável porque a ideia é reconstruir o sentido da vida.

 

O luto da criança

Se o luto durar muito tempo, interferindo na vida da criança, é indicado buscar ajuda

Problemas de saúde mental afetam cerca de 1 em cada 10 crianças e jovens. Incluem depressão, ansiedade e transtorno de conduta, e muitas vezes são uma resposta direta ao que está acontecendo em suas vidas.

Para Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a tristeza e o choro são normais –  e até importantes. “Faz parte do desenvolvimento emocional”, avalia. “Mas, se essa situação durar muito tempo, interferindo na vida da criança, aí é indicado buscar ajuda”, esclarece.

Abaixo você encontra dicas de como preparar a criança e como a ajudar a lidar com a perda:

  • O que fazer:

Preparar a criança – Se o pet está doente ou velhinho, faz sentido citar a perspectiva da morte.

Falar sobre a perda – Assim, a criança tem uma vivência real e inteira. Ela aprende a encarar as emoções.

Apostar em rituais – Faça um enterro simbólico e relembre histórias marcantes com o companheiro.

  • O que evitar:

Mascarar a partida: Nada de agir como se o bicho tivesse sumido ou ido para uma fazenda mágica.

Dar muito detalhe – O animal foi sacrificado? Isso é mais complexo e não há razão para contar.

Adquirir outro logo – Passar pelo luto é essencial. Depois disso, tudo bem acolher um novo pet, se viável.

 

Lembre-se: Um bicho é mais que bem-vindo!

Ainda que a morte traga sofrimento, esse não deve ser um motivo para abdicar da experiência de conviver com um animal. Polanczyk afirma que a molecada ganha muito com a relação, já que há desenvolvimento de autonomia e responsabilidade, além de companheirismo nas brincadeiras e nos momentos difíceis. “Hoje animais são considerados até terapêuticos para crianças com certas dificuldades”, ressalta.

 

Fontes:

Saúde Abril, Hospital Santa Monica, Grupo São Judas Tadeu, Portal Vaticano e Hypeness

 

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