Comprometimento Cognitivo em Idosos

Com uma população que vive cada dia mais, como fica a questão do Comprometimento Cognitivo em nossos idosos?

Com o envelhecimento da população brasileira, os profissionais de saúde vêm atendendo mais idosos em suas práticas. Os transtornos neurodegenerativos, como a Doença de Alzheimer e outras demências, tornaram-se, nas últimas décadas, uma questão de saúde pública e um desafio para as ciências médicas.

A detecção precoce do comprometimento cognitivo leve é essencial para traçar estratégias com o idoso a fim de preservar sua autonomia, assim como para realizar as adaptações necessárias no âmbito familiar para melhor acolhê-lo e cuidá-lo.

Além disso, intervenções precoces – como reabilitação neuropsicológica, tratamento psiquiátrico e exercícios físicos – podem reduzir e mesmo interromper o declínio cognitivo de pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL).

Em síntese, é importante o profissional de saúde – principalmente aquele que lida com pacientes idosos – saber sobre o CCL e suas possíveis implicações sobre a vida presente e futura dessas pessoas.

Déficit Cognitivo em Idosos

A demência ou déficit cognitivo pode ser definida como uma síndrome caracterizada pela presença de declínio cognitivo persistente, que interfere nas atividades sociais ou profissionais do indivíduo e que independe de alterações do nível de consciência.

Os motivos que levam ao surgimento do déficit cognitivo ao longo dos anos ainda não estão bem estabelecidos. Todavia, algumas propostas têm sido levantadas.

Dentre elas, a redução da velocidade no processamento de informações, decréscimo de atenção, déficit sensorial, redução da capacidade de memória de trabalho, prejuízo na função do lobo frontal e na função neurotransmissora, além da deterioração da circulação sanguínea central e da barreira hematoencefálica.

Foram encontrados declínios importantes na densidade de tecidos neurais em função do envelhecimento no córtex frontal, parietal e temporal. Isso pode ser justificado em razão de uma quebra do equilíbrio entre a lesão e o reparo neuronal.

O cérebro é sensível a inúmeros fatores que resultam em danos às redes neurais. De forma similar aos outros tecidos, ele possui a capacidade de autorreparação / autoadaptação, ou mesmo uma compensação pela perda de neurônios e interrupções na arquitetura neural.

Quando ocorre um desequilíbrio entre lesão neuronal e reparação, essa capacidade de plasticidade neuronal é prejudicada, estabelecendo-se então o envelhecimento cerebral e a demência.

De acordo com Araújo e Oliveira (2010), as síndromes demenciais podem ser classificadas em duas categorias: degenerativas e não degenerativas. As demências não degenerativas são decorrentes de acidentes vasculares, processos infecciosos, traumatismos, deficiências nutricionais, tumores, dentre outras patologias.

Já as demências degenerativas têm sua origem predominantemente cortical como, por exemplo, a Doença de Alzheimer; e subcortical, como a Doença de Huntington. Esta divisão entre demência cortical e subcortical é baseada na localização da lesão.

Nas demências, os fatores de risco variam de acordo com os estressores genéticos e ambientais, além da idade e histórico clínico, conforme cada indivíduo. O primeiro sinal/sintoma é a perda da memória seguida de declínio cognitivo e funcional podendo ser divididos em estágios conforme o acometimento.

Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)

Pode ser definido como um estágio intermediário entre o funcionamento cognitivo normal no envelhecimento e um quadro demencial.

Ainda que uma pessoa que apresente CCL não venha, necessariamente, a desenvolver uma demência – podendo, inclusive, reverter seu funcionamento cognitivo para um estágio anterior ao CCL – ainda assim, dizíamos, evidências substanciais na literatura indicam que uma pessoa com CCL tem risco alto de seu quadro evoluir para uma demência.

Avaliação Clínica

O comprometimento cognitivo leve é um conceito que se baseia, sobretudo no funcionamento cognitivo do paciente. Isso significa dizer que diversas funções cognitivas, como memória, atenção, linguagem, funções executivas e habilidades visuoconstrutivas estão envolvidas no conceito.

Entretanto, ainda que a cognição seja o fator mais importante para a caracterização do CCL, o clínico deve levar em consideração outros elementos, como a funcionalidade do idoso e, claro, a ausência de um quadro demencial.

Os critérios clínicos que sugerem uma possível presença de CCL são: (1) queixa subjetiva de prejuízo ou declínio cognitivo; (2) evidência objetiva de comprometimento cognitivo; (3) funcionalidade normal nas atividades da vida diária; e (4) ausência de demência.

Percebe-se que, dentro dos critérios mencionados, a cognição aparece tanto na queixa subjetiva do próprio paciente, quanto na evidência objetiva de seu prejuízo (que se faz através de uma avaliação neuropsicológica por meio da aplicação de testes padronizados).

Geralmente, os pacientes vêm ao consultório dizendo que sua memória tem falhado (e os familiares corroboram isso). Entretanto, nem sempre é a memória que está prejudicada – ou somente ela –, mas outra função cognitiva, como a atenção, por exemplo.

Uma avaliação neuropsicológica é capaz de produzir um retrato do funcionamento cognitivo do paciente, a fim de esclarecer quais funções cognitivas estão de fato comprometidas.

Verifica-se, ainda, que, nos critérios clínicos de CCL há a preservação da funcionalidade do paciente: ou seja, mesmo havendo prejuízo em alguma função cognitiva, ele continua fazendo suas atividades rotineiras com algum grau de autonomia, como ir à padaria, usar o telefone ou pegar um ônibus.

Por fim, o CCL e a demência são duas entidades mutuamente excludentes: se uma está presente, a outra deve estar ausente. Se o paciente apresenta um quadro de demência, é evidente que ele não pode ter CCL, uma vez que este último é definido como um estágio de transição entre o envelhecimento normal e a demência, não se confundindo nem com um, nem com outro.


O papel do neuropsicólogo

A avaliação neuropsicológica possui uma importância essencial em relação ao comprometimento cognitivo leve devido a alguns fatores. Em primeiro lugar, o interessado pela avaliação – seja o próprio paciente ou sua família – pode interpretar, equivocadamente, certas alterações como sendo sintomas de uma demência: por exemplo, o paciente idoso começa a ter queixa subjetiva de memória, pois, segundo ele, sempre teve uma memória boa, e, a partir disso, acredita estar iniciando uma demência. Neste caso, a avaliação neuropsicológica é capaz de identificar o quadro de CCL, afastando ou, ao menos, interrogando um possível diagnóstico de demência.

Daí porque a avaliação neuropsicológica é uma grande aliada a esse processo decisório complexo o qual chamamos diagnóstico: a partir de uma avaliação neuropsicológica, o neurologista ou psiquiatra podem, integrando seus resultados com informações oriundas da observação clínica e de exames, chegar a um diagnóstico do paciente e verificar, por exemplo, que não é o momento de prescrever um medicamento para tratar Doença de Alzheimer, pelo único motivo que o paciente não sofre desta moléstia, mas de um CCL.

Constatado que há, realmente, um quadro de CCL, a avaliação neuropsicológica é capaz de identificar quais funções cognitivas estão prejudicadas – assim como a magnitude do comprometimento –, e quais funções estão preservadas.

A partir dessa identificação, o neuropsicólogo é capaz de entender e explicar ao paciente de que maneira as funções cognitivas comprometidas estão afetando a sua vida, indicando de que forma seu quadro cognitivo se relaciona à queixa inicial do paciente.

Assim, continuando com o exemplo anterior, o idoso que sente que sua memória está prejudicada (o que é uma queixa genérica e vaga) pode vir a entender, após a avaliação neuropsicológica, que na verdade sua memória está preservada; o que o faz ter tal impressão é um déficit na atenção e no controle inibitório.

Uma vez circunscritas as funções cognitivas comprometidas e preservadas, o neuropsicólogo procura, em cooperação com o paciente e sua família, desenvolver estratégias para compensar o prejuízo que as funções cognitivas comprometidas podem estar acarretando na vida do paciente, aproveitando-se, para isso, as funções preservadas.

Assim, o idoso que se queixava de um declínio de memória e que aprendeu, após a avaliação neuropsicológica, que está tendo um problema de atenção – particularmente em conseguir inibir os processos automáticos e ativar um processo mais controlado – pode desenvolver certas estratégias para, antes de realizar determinada ação, concentrar sua atenção nela a fim de realizar uma etapa de cada vez.

Por fim, a avaliação neuropsicológica é essencial para avaliar pacientes com comprometimento cognitivo leve, porque, a partir do momento em que é detectado um quadro de CCL, passa-se a monitorar (ou a manter uma vigilância) quanto ao funcionamento cognitivo do paciente.

Recomenda-se, a depender do caso, que se realize uma reavaliação em um período de seis meses ou de um ano, para acompanhar o desempenho das funções cognitivas. Neste sentido, pode-se acompanhar a evolução do quadro do idoso, verificando se, no exemplo citado, sua função atencional e controle inibitório pioraram, mantiveram-se estáveis ou se reverteram para um perfil neuropsicológico de envelhecimento normal, assim como se outras funções cognitivas começaram a apresentar um desempenho deficitário.

De acordo com essa evolução, o psiquiatra, o neurologista e o neuropsicólogo podem rever as estratégias adotadas anteriormente, adicionar novas ou, mesmo, detectar o início da conversão do CCL em um quadro demencial.

Como a Clínica Jequitibá pode ajudar

Nossos profissionais são altamente capacitados e nossa Clínica de Saúde Mental aparelhada com equipamentos clínicos modernos para realizar os exames, assim a Avaliação Neuropsicológica é a mais fidedigna possível.

A Avaliação Neuropsicológica analisa as funções cognitivas, tais como a memória, orientação, a linguagem, a atenção e funções executivas (planeamento de ações, comportamento dirigido a objetivos e tomada de decisões) e procuram-se possíveis correlações com as funções cerebrais.

Após a Avaliação Neuropsicológica, e caso se verifique essa mesma necessidade, sugere-se um plano de reabilitação adequada ao paciente, para a melhora e/ou estabilização das funções cognitivas. Contate a Clínica Jequitibá de Saúde Mental, estamos preparados para prestar um atendimento de excelência.

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