Um amigo me deu um presente, um livro muito interessante chamado: Diálogos Humanistas, cujos organizadores são a Márcia Tassinari e o André Neris.
Este livro contém textos clássicos de pessoas que trabalharam com Carl Rogers, que foram resenhados e comentados por duas gerações de autores brasileiros, praticantes da Abordagem Centrada na Pessoa.
Estou falando aqui deste livro, não simplesmente para divulga-lo, mas porque acho que ele deveria ser lido para além da fronteira dos psicólogos, por profissionais de outras áreas. O momento histórico que vivemos exige muita criatividade.
Neste livro se apresenta o texto de uma autora que trabalhava com a Criatividade, Ruth Sandford, que me chamou especial atenção e se chama: De Rogers à Gleick e de volta ao início, onde Sandford faz menção à Teoria do Caos. Márcia Tassinari fez a resenha deste texto e resumiu as principais contribuições do texto no seguinte:
- A teoria do Caos como ciência do processo;
- Universalidade, onde Rogers falava que em toda comunicação pessoal existem leis psicológicas ordenadas, como a mesma ordem encontrada no Universo;
- Tendência atualizante: onde as pessoas estariam em constante evolução e poderiam se beneficiar de atitudes facilitadoras para evoluir: compreensão empática, aceitação positiva incondicional e congruência;
- Sistemas abertos: Márcia cita Ilya Prigogine (Prêmio Nobel de Química), que fala de sistemas em interação com o ambiente. A pessoa seria um sistema aberto em interação com o ambiente, e poderia influencia-lo e ser influenciada por ele. A pessoa poderia introduzir uma perturbação no ambiente, que levaria à uma mudança. A tendência atualizante poderia ser equiparada com o conceito de Prigogine, onde a pessoa evoluiria e chegaria à um nível mais alto de complexidade;
- Heráclito é citado no texto, com a sua máxima: uma pessoa não pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque as águas não seriam mais as mesmas e nem a pessoa seria mais a mesma, o que significa que tudo está em permanente mudança; que a mudança leva à evolução e não à retroação;
- Constante de Feigenbaum: Mitchel Feigenbaum encontrou um padrão matemático naquilo que antes era considerado um erro, que acontece em eventos aleatórios, ruídos, mas este cálculo seria o mesmo, em todas as curvas que tem um valor máximo único.
A importância da descoberta da Constante de Feigenbaum se dá no estudo dos ruídos que mostram que mesmo quando algo parece estar errado, quando tudo está confuso no ambiente, destes ruídos surgirá uma nova ordem no caos. Assim como os fractais, que são bonitas formas complexas, irregulares e não-lineares, que podem ser observadas em imagens no computador, que são um exemplo da ocorrência de ruídos que provam que o Universo não é simples e ordenado como supunha Isaac Newton, mas nele ocorrem eventos aleatórios que podem provocar mudanças inesperadas.
Mas porquê eu fui tocada pela Teoria do Caos e a menciono num estudo sobre Processos Lógicos? Porque acredito que o fenômeno psicológico e o fenômeno social sofrem perturbações de eventos aleatórios do ambiente e influenciam, por sua vez o ambiente, numa relação matemática, que seria de ordem , mais complexa, não-linear, aparentemente incompreensível e confusa, mas que, de fato seguiria uma ordem universal superior.
Uma vez eu me lembro que um paciente obsessivo, escreveu uma carta para o meu chefe no meu trabalho. Cada frase da carta estava escrita em 3 linguas: português, inglês e alemão. A carta tinha 10 folhas, onde ele descrevia somente como foi que ele encontrou um amigo numa praça. Na carta, além de uma descrição detalhada do encontro, havia projeções geométricas e vários cálculos. Na época nós não entendemos nada do que aquela carta poderia significar, mas acredito que hoje eu esteja mais próxima de entender.
A tendência atualizante de Carl Rogers encerra este processo de saída de um estado indiferenciado para atingir níveis superiores de complexidade, onde se formaria uma pessoa.
Uma pessoa pode percorrer caminhos obscuros e aparentemente incompreensíveis, na busca do autoconhecimento, para enfim diferenciar-se e compreender qual é o significado da sua vida e qual é a contribuição original que tem para dar ao mundo, para que o mundo por sua vez, siga evoluindo.
Neste sentido, não poderíamos segregar as pessoas por raças, por nacionalidades, por religião, por ter um transtorno mental, pois Jonh Nash Forbes Jr., matemático e esquizofrênico, ganhou o Prêmio Nobel de Economia, com sua Teoria dos Jogos, mostrando a lógica que havia subjacente à intrincados processos da Economia.
Quando ocorre uma variável interveniente no mundo, como a atual pandemia pela Covid 19, ela vai repercutir em cada indivíduo de uma forma, fazendo com que cada um interprete esta situação de uma maneira diferente, detonando o movimento “black lives matter”, que conduz a uma nova ordem mundial.
Podemos dizer que há processos Lógicos mais simples como o Monismo, e há outros mais complexos, como a Dialética de Hegel, onde um indivíduo teria uma tese: a superioridade de uma raça diante das outras, outros indivíduos possuiriam uma antítese: vidas negras importam, e o mundo inteiro faria uma síntese disto: é preciso mudar o estilo de organização policial e militar, modificando o conceito de racismo e relações de poder, psicopatia e condutas predatórias entre autoridades e população.
Estou consciente de que nada do que estou falando é novo: há muito tempo se fala de Monismo, Dialética e Teoria do Caos. Mas a minha contribuição original está em relacionar tudo isto, vendo uma ordem subjacente perpassando tudo isto, e que todos os eventos, sejam eles da ordem das exatas, biológicas ou humanas, todos os eventos estão ligados por um fio, a linguagem universal da matemática.
O que quero dizer é que as coisas não estão separadas, mas como me disse uma vez um esquizofrênico que atendi, que tinha grande conhecimento de filosofia, e que me presenteou com as Obras completas de Shakespeare para Teatro: Tudo está ligado, tudo é uma coisa só.
Que curioso, isto quer dizer que Heráclito e Parmênides, os dois que são opostos, um dizendo que tudo muda, e o outro dizendo que nada muda, os dois estariam certos! Ao mesmo tempo que as coisas mudam o tempo todo, tudo estaria ligado e seria Um, e portanto unitário e imutável.
Como mostrou o belo filme Avatar, também aqui na Terra, tudo está ligado e a Terra é um único organismo vivo, do qual cada componente: a humanidade, os outros animais, o clima, mares, florestas e cidades, absolutamente TUDO está interligado e que realmente, como disse o meteorologista Lorenz, o bater das asas de uma borboleta de um lado da Terra, pode causar um furacão do outro lado.
Vivemos uma época de despertar de uma nova consciência, como diria Eckhard Tolle, onde cada pessoa perceberá que só chegando no seu grau de evolução máximo individualmente, só evoluindo de maneira aleatória e original, de acordo com sua história de vida, cada pessoa terá uma contribuição original e necessária para dar ao mundo, e que na verdade, esta contribuição pertence à uma ordem matemática universal perfeita.