No Ocidente, o suicídio é um ato consciente de autoaniquilação, melhor compreendido como uma doença multidimensional num indivíduo carente que acredita ser o suicídio a melhor solução para resolver um problema.
A taxa de suicídios aumentou 60% nos últimos 45 anos e a projeção para o ano de 2020 é de que essas mortes aumentem mais de 50%, ou seja, 1,5 milhão de pessoas cometerá suicídio no período de 1 ano no mundo, representando uma morte a cada 20 segundos e uma tentativa a cada 2 segundos, já que as tentativas tendem a ser de 10 a 20 vezes maiores que os suicídios completos. (WHO, 2010). São mais mortes que todos os conflitos mundiais armados juntos.
Em muitos países, como Austrália, Reino Unido e Suécia, após diversas ações de prevenção, os números começam a diminuir, o que não se aplica ao Brasil, onde os casos só aumentam.
No Brasil acontecem em média mais de 1 suicídio por hora, contabilizando 26 suicídios por dia, num total de mais de 9.000 pessoas por ano. Embora o país esteja na 11a posição no ranking mundial de taxa de suicídios, ocupa a 9a posição em números absolutos, por se tratar de um país populoso. Analogamente, é como se um ônibus com 26 passageiros tivesse um acidente fatal todos os dias e ninguém comentasse sobre o assunto. Pouco se fala sobre o suicídio e quase nada se faz.
Nos últimos 15 anos, houve um aumento de 33% na taxa de suicídios completos no Brasil, maior que o aumento da população, dos homicídios e dos acidentes de trânsito. Temos cidades no Brasil com taxas maiores que a Lituânia, 1o colocado no ranking mundial de suicídios. O suicídio de homens com idade entre 15 e 24 anos teve um expressivo aumento de 20 vezes no período de 1980 a 2000.
No mundo, todos os anos, aproximadamente 1 milhão de pessoas tiram suas vidas, numa taxa de mortalidade de 16 por 100.000 habitantes, ou seja, uma morte a cada 40 segundos, sendo a 13a causa de morte mundial e a 3a mais frequente em indivíduos com idade entre 15 e 34 anos. (WHO, 2010). Novamente, outra analogia é pensar que uma cidade do tamanho de Campinas (SP), por exemplo, desaparecesse anualmente.
O suicídio é o evento final de uma complexa rede de fatores. Ele é multifatorial, ou seja, apresenta vários fatores para ser compreendido. Essas causas podem ser econômicas, religiosas, sociais, biológicas, ambientais, culturais, psicológicas, psiquiátricas etc.
A Organização Mundial da Saúde diz que em um ato suicida geralmente encontramos sentimentos de depressão, desamparo, desesperança e desespero. Concomitantemente, as pessoas geralmente conhecem os desencadeantes, ou seja, o que precipitou aquela morte em um curto espaço de tempo, como a perda do emprego ou o término de um relacionamento. É importante saber que as causas são sempre várias e, na maioria das vezes, já influenciavam a pessoa há muito tempo. Dessa maneira, o suicídio é somente a ponta do iceberg, pois o que talvez o desencadeie seja todo o processo pelo qual a pessoa que o comete vivencia.
O suicídio em si não é um problema, mas é a solução encontrada para lidar com o sofrimento, por vezes, intolerável e interminável. Sendo assim, as pessoas se matam talvez para fugir de algum problema, mas acabam por dar fim as suas vidas. O suicídio NUNCA é culpa de uma pessoa.
Existe uma relação intrínseca entre transtornos psiquiátricos e suicídio. Estima-se que quase 90% dos indivíduos que tentaram ou cometeram suicídio satisfaziam os critérios para transtornos psiquiátricos, tendo até 60% deles desordem afetiva diagnosticável.
Conforme o Ministério da Saúde, em seu Manual Dirigido a Profissionais da Saúde Mental, os fatores de risco do suicídio são divididos em 4 áreas:
1) Transtornos mentais (em participação decrescente nos casos de suicídio)
- Transtornos do humor (ex.: depressão);
- Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas (ex.: alcoolismo);
- Transtornos de personalidade (principalmente borderline, narcisista e antissocial);
- Esquizofrenia;
- Transtornos de ansiedade;
- Comorbidade potencializa riscos (ex.: alcoolismo + depressão).
2) Sociodemográficos
- Sexo masculino;
- Faixas etárias entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos;
- Estratos econômicos extremos;
- Residentes em áreas urbanas;
- Desempregados (principalmente perda recente do emprego);
- Aposentados;
- Isolamento social;
- Solteiros ou separados;
- Migrantes.
3) Psicológicos
- Perdas recentes;
- Perdas de figuras parentais na infância;
- Dinâmica familiar conturbada;
- Datas importantes;
- Reações de aniversário;
- Personalidade com traços significativos de impulsividade, agressividade e humor lábil.
4) Condições clínicas incapacitantes
- Doenças orgânicas incapacitantes;
- Dor crônica;
- Lesões desfigurantes perenes;
- Epilepsia;
- Trauma medular;
- Neoplasias malignas;
- Aids.
Se o paciente está sob tratamento psiquiátrico, o risco é maior naqueles que:
- Tiveram alta recentemente do hospital;
- Tem história de tentativas anteriores.
Além disso, fatores de vida estressores recentes que foram associados com um risco aumentado para suicídio incluem:
- Separação marital;
- Luto;
- Problemas familiares;
- Alterações no status ocupacional ou financeiro;
- Rejeição de uma pessoa significativa;
- Vergonha e medo de ser culpado de algo.
A prevenção ao suicídio
O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo: decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia. (Albert Camus)
A prevenção do suicídio pode ser primária, secundária e terciária, e a posvenção deve conter intervenções psicossociais, ambientais e socioculturais.
Dentre as intervenções possíveis, estão:
- Ações que favoreçam a ampliação de awareness;
- Educação sobre saúde mental;
- Treinamento de pessoas-chave;
- Treinamento de aptidões;
- Screening;
- Intervenções com diversos níveis;
- Controle de álcool;
- Treinamento de clínicos gerais;
- Restrição de acesso aos meios;
- Intervenções breves;
- Frentes de ajuda;
- Prevenção do suicídio pela internet;
- Grupos de suporte para tentativas de suicídio;
- Tratamento psicológico;
- Grupos de sobreviventes;
- Centros de ajuda a pessoas em crise;
- Continuidade da ajuda;
- Diretrizes para a mídia;
- Grupos especiais: programas para escolas, idosos e prisioneiros.
Fonte: Instituto Vita Alere