A Saúde Mental e as Questões de Reabilitação Física

O Ministério da Saúde defende que o tratamento de pessoas com transtornos mentais seja baseado em um modelo comunitário de atenção integral. Ou seja, assegura-se ao paciente o direito à liberdade, o apoio da família no processo de recuperação e a participação dele em ações na comunidade.

Dentro do contexto da deficiência proporcionada pelo transtorno mental, além do tratamento do transtorno, a prevenção é de extrema importância à saúde dessa população. A prevenção é definida como o conjunto de medidas e ações destinadas a impedir que se instalem transtornos ou deficiências ou impedir que as deficiências e os transtornos, quando já instaladas tenham consequências físicas, psicológicas e sociais negativas.

Os níveis de aplicação das ações de saúde compreendem a promoção de saúde, proteção específica, diagnóstico e tratamento precoce, limitação do dano e a reabilitação.

Para minimizar os efeitos da deficiência física, produzidas pelo transtorno mental, são utilizadas algumas técnicas de reabilitação física, visando intervir nas limitações impostas pela própria degeneração física causada pela utilização crônica da medicação neuroléptica para o controle da doença.

Com isso a abordagem do paciente com transtorno mental no tratamento fisioterapêutico é fundamentalmente estabelecida por cooperação e comunicação do próprio paciente e por vezes da família.

Existe, no entanto, diferença entre os modelos de abordagem utilizada no tratamento do paciente convencional e do paciente psiquiátrico, nas diferentes especialidades fisioterapêuticas.

Logo, se percebe que a abordagem e o tratamento do paciente psiquiátrico devem ser estabelecidos com base em suas deficiências, observadas pelas limitações impostas pelos sintomas da doença e de forma interdisciplinar, visando o potencial de recuperação e inclusão social, mantendo sua capacidade funcional e independência para atividades da vida diária (AVD).

Um fator importante na abordagem e no tratamento do paciente psiquiátrico é a capacidade do fisioterapeuta compreender o quadro clínico e a relação neuroendócrina do distúrbio apresentado, bem como os efeitos da medicação utilizada para o equilíbrio e estabilização do paciente.

O Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina (IPq/SC) como instituição especializada no atendimento dos distúrbios psiquiátricos, contempla dois públicos diferentes em suas afecções e consequentes transtornos mentais; pacientes com características de transtornos agudos (crises), com internação temporária, que dependem da resolutividade do quadro clínico; e pacientes asilados, com transtornos psiquiátricos caracterizando quadros crônicos, de longa permanência, muitas vezes esquecidos pela família e isolados do convívio social, pacientes estes envelhecidos e com limitações para cuidados de higiene e alimentação .

A abordagem clínica em fisioterapia difere em seus métodos de intervenção exigindo recursos terapêuticos individuais e específicos a cada patologia, sendo o tratamento prescrito pelo fisioterapeuta em casos como traumas decorrentes de autoagressão realizados por pacientes em crises agudas dos transtornos mentais, rigidez articular, discinesia, hipomobilidade, fraqueza muscular decorrentes de comorbidades crônicas oriundas do uso crônico da medicação neuroléptica (antipsicóticos) entre outras encontradas nos pacientes com internação temporária e asilados.

Portanto o fisioterapeuta deve ter estratégias individualizadas para o atendimento tanto dos pacientes agudos, quanto de pacientes crônicos, humanizando o atendimento e fazendo com que este não se torne apenas avaliativo, contemplando a necessidade imediata enfrentada pelo paciente.

O objetivo geral do tratamento fisioterapêutico, em curto prazo, é proporcionar ao paciente a manutenção do seu estado de saúde e proporcionar concomitantemente, a reabilitação de sua capacidade funcional restaurando sua integridade física, social e mental, através de recursos específicos do fisioterapeuta e orientações gerais sobre a saúde física, proporcionando com isso um aumento na independência e qualidade de vida do paciente, modulando e melhorando seu autocontrole e otimizando o tratamento clínico do transtorno psiquiátrico.

* Texto de Giuliano Mannrich – Fisioterapeuta do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina – IpqSC, publicado no site do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Fonte: Creffito 10

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