Como a arteterapia pode ser usada na promoção da saúde mental

Arteterapia e saúde mental

A arteterapia expõe a junção entre a arte e a psicologia, apresenta-se como uma ferramenta utilizada no âmbito da saúde mental por meio de várias formas de expressão artística.

O presente artigo discute e faz refletir sobre a utilização desse instrumento com finalidade terapêutica e a importância da saúde psicológica para garantir a qualidade de vida.

A reflexão desenvolvida postula que a arteterapia é um método eficaz para canalizar e converter conflitos advindos do adoecimento mental, pois se constitui como um canal de expressão da subjetividade humana permitindo acessar conteúdos internos e trabalhá-los.

Conclui-se que a arteterapia propõe uma transformação das tradicionais formas de tratamento na área da psicologia e se destaca como uma ferramenta importante no trabalho do psicólogo possibilitando a humanização, promoção da saúde mental e comodidade para os pacientes.

O que é Saúde para a OMS?

A Organização Mundial da Saúde elabora e traz a definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade (OMS,1946).

Portanto, esse conceito da OMS retrata a importância da saúde mental sendo que é um fator muito importante no autocuidado.

Para manutenção da saúde mental, envolve ações para criar condições de vida mais saudável e a arteterapia é uma ferramenta de implementação para tornar o tratamento mais eficiente e, nesse sentido, o Ministério da Saúde na Portaria nº 849, de 27 de março de 2017, incluiu a prática de arteterapia como um dispositivo de tratamento na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).

Esta política tem o propósito de implementar tratamentos alternativos à medicina baseado em evidências na rede pública do Brasil.

Como a arteterapia pode ser usada na promoção da saúde mental?

Os recursos da arteterapia auxiliam o indivíduo a encontrar possibilidades de expressão para processar e o papel do profissional arteterapeuta ou o psicólogo é fundamental para possibilitar a transformação do outro.

O profissional pode utilizar a arteterapia por meio de desenhos, modelagem, musicoterapia, pintura, movimento e dança, dramatização, escrita criativa, Doutores de Alegria, contador de histórias e construção/sucata.

A atividade com dramatização, chamada de psicodrama, foi a estratégia instituída para a coleta de dados e baseou-se na brincadeira de faz de conta, na qual a criança desenvolve atividades de simulação. Em outras palavras, a dramatização é uma técnica teatral onde o paciente vai receber o papel de alguém (pode ser médico, mãe, professora, entre outros). Quando assume esse papel, dramatiza um comportamento característico do papel encarnado e, desta forma, o paciente adquire o entendimento de cada um dos papéis presentes na sua situação sociocultural.

Na musicoterapia, a música consegue trabalhar os hemisférios cerebrais, promovendo o equilíbrio entre o pensar e o sentir, resgatando o indivíduo em seus pensamentos e sentimentos. A melodia trabalha o emocional, a harmonia, o racional e a inteligência. O musicoterapeuta poderá intervir de forma direta ou indireta:

Na forma direta, o terapeuta definirá as atividades da sessão e os momentos dessas atividades.

Na forma indireta, o musicoterapeuta aguarda a iniciativa do paciente para, então, definir suas ações e intervenções.

É possível utilizar essas duas formas de condução do processo em momentos diferentes de uma mesma sessão.

A musicoterapia pode trabalhar de várias maneiras para tratamento terapêutico. As atividades mais utilizadas em musicoterapia incluem cantar, tocar instrumentos musicais, compor, improvisar com a voz ou com os instrumentos, ouvir música e realizar jogos musicais.

Além disso, uma das técnicas muito conhecidas na área hospitalar, mas que também serve na psicologia escolar, o “Doutores da Alegria” ou “Clown”, que é um profissional ou artista caracterizado de médico-palhaço que oferece brincadeiras e arteterapia com atendimento mais humanizado para os pacientes que são crianças e adolescentes.

A terapia de clown é definida como atividade catártica, que significa alívio, ou seja, também funciona como válvula de escape, conduzindo à diminuição da ansiedade. Essa é a base da ludoterapia, técnica de psicoterapia infantil e também do brinquedo terapêutico.

Os doutores da alegria atuam no hospital com intuito de promover o processo de cura e acolhimento para as crianças e possibilitam diferentes formas de comunicação, permitindo assim que a criança expresse seus medos, dores, angústias e limitações além de mudar o foco da rotina hospitalar.

Além disso também é importante amenizar as angústias dos familiares, colocando em cena o lado saudável não só da criança, mas também dos seus pais ou cuidadores o que contribui para redimensionar o processo de trabalho com a composição do técnico e do lúdico.

Outra técnica utilizada é a pintura, que é instrumento de expressão do paciente para reorganizar seu mundo interno e a relação com o mundo exterior. O uso, indicações e propriedades da pintura em Arteterapia são a facilidade operacional, por ativar o fluxo criativo e facilitar a liberação de conteúdos inconscientes, pelo desbloqueio, experimentação sensorial e lúdica com a cor, com o inusitado em movimento.

Por outro lado, além da pintura, há o desenho como o método da arteterapia. O desenho é uma arte onde o paciente pode descontar os sentimentos ou traumas. É possível perceber que o desenho retrata não só o que se deseja, e sim, o que realmente a pessoa é ou como está se sentindo naquele momento.

Além disso, o desenho possibilita a realização do diagnóstico, pois através dele é possível verificar quais as áreas do sistema neurológico estão afetadas, pois se a criança tem algum tipo de problema neurológico, os desenhos e a escrita ficam comprometidos e, portanto, auxiliam no diagnóstico.

Assim como também, na perspectiva junguiana, o desenho e as mandalas são bastante utilizados para realização de uma análise diagnóstica. Segundo Jung (2001), a mandala é um símbolo do self, isto é, de si mesmo, representando ao mesmo tempo o centro e a totalidade psíquica.

O psicólogo quando perceber o paciente que está desenhando a mandala, deve pedir à própria pessoa para entrar em contato com o que desenhou, procurando perceber e integrar os sentidos presentes naquela imagem.

A contação de histórias também é mais uma ferramenta da Arteterapia utilizada pelos psicólogos para conseguir coletar as informações através das crianças, pois a criança, ao ouvir histórias, pode se identificar com um dos personagens, pode criar um símbolo e se colocar no lugar do outro.

Também pode-se utilizar, na Arteterapia, a construção com sucata já que esta é uma atividade que favorece a exteriorização de sentimentos e manifestação de elementos da personalidade de cada indivíduo diante do material com que se constrói, auxiliando a comunicação entre o arteterapeuta com o paciente.

Em outras palavras, na produção de sucata pelo paciente, o arteterapeuta pode testemunhar a personalidade do paciente: se ele é paciente, impulsivo, apressado e qualquer outra característica que pode ser útil para a análise feita pelo arteterapeuta.

A sucata é composta por materiais, seja plástico, papelão, tecido, alumínio, papel, borracha e entre outros que não tem a utilidade ou a funcionalidade que serão transformados em obra de arte de acordo com a criatividade do paciente e é um elemento que possibilita a construção e a ressignificação de objetos, no qual a criança (ou mesmo o adulto) tem autonomia para utilizá-los livremente trabalhando suas fantasias na interação com o ambiente.

Além disso, por meio da brincadeira com sucata, o paciente desenvolve seu raciocínio e suas habilidades, o que reflete diretamente em seu modo de aprender e podem perceber que aqueles sentimentos e pensamentos que provocam desconforto também podem ser transformados, trabalhados e expostos na forma de algo diferente e não necessariamente ruim.

Esses materiais podem ser alvos de significações intensas, pois facilitam a sua expressão e a sua criatividade e não direcionam a criança a assuntos que podem ser difíceis de lidar. Então, pode dizer que o paciente desenvolve a sucata ao mesmo tempo organiza os seus sentimentos.

A dança também pode ser utilizada como uma atividade arteterapêutica,  auxiliando no tratamento e no processo de cura dos pacientes,  uma vez que os leva a interagir com suas emoções e os elementos psíquicos, conseguindo assim a se encontrar e ao seu corpo com movimentos que exteriorizam as vivências e o próprio inconsciente.

A consciência corporal propicia o relaxamento, a vitalização e o centramento dos participantes deste tipo de Arteterapia. A dança colabora também na melhoria da atenção, desenvolvimento motor e cognitivo e estimula a comunicação.

No trabalho com música, os sons possuem um caráter lúdico de grande valia, pois, além de proporcionarem prazer, reduzem o nível de ansiedade, trazendo o conforto e relaxamento.

Entre as possibilidades de facilitar o acesso ao inconsciente tem a escrita criativa que, assim como qualquer processo arteterapêutico, também trabalha com as emoções, ajuda a compreender a si mesmo, ordena te­mas, desenvolve a comunicação, representa sons internos e externos, apura a compreensão e, gradualmente, acessa conteúdos inconscientes.

Além disso, escrever livremente, sem a utilização de pontuação ou uso de borracha, sobre determinado trabalho artístico executado anteriormente ou sonho, contando ainda com a possibilidade de erros gramaticais e de ortografia, possibilita que os conteúdos inconscientes aflorem facilmente para a consciência.

Também pode-se utilizar na Arteterapia a modelagem com argila e massinha de modelar, já que a argila silencia a mente e o espírito, mobiliza o corpo e harmoniza a respiração. Essa argila também proporciona sensações e é indicada para o trabalho com pacientes psiquiátricos por estimular o contato com o corpo e a sensação através dos órgãos dos sentidos, facilitando o fortalecimento da identidade, a integração de conteúdos inconscientes e a delimitação do mundo interno e externo.

Enfim, a modelagem desenvolve a interação com a psique corporificada ou com o corpo psíquico, alterando-o em níveis mais aparentes e outros mais sutis.

Fica a cargo do arteterapeuta criar um repertório de informações relativo a cada modalidade, adequando-as às necessidades do usuário a ser atendido.

Impactos da Arteterapia nos campos da psicologia

A arteterapia minimiza os efeitos negativos da doença mental nas questões emocionais que naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros.

Os usuários da arteterapia estão em constante transformação, quebrando preconceitos consigo mesmos, aceitando-se quanto à sua aparência física e aprendendo a conviver com suas limitações físicas e do transtorno Mental, estabelecendo melhor relacionamento interpessoal, demonstrando ter aprendido a conviver com as diferenças.

Por outro lado, a arteterapia não é somente para os indivíduos que sofrem com transtornos ou doenças, mas uma prática que proporciona benefícios para todos em qualquer fase da vida para promover uma saúde mental melhor.

A arteterapia tem benefícios para o envelhecimento saudável e permite que os idosos transformem suas vidas, preenchendo-as com satisfação, alegria e autoestima e melhorando a socialização.

Em suma, diante de uma série de experiências na prática da arteterapia e no trabalho do psicólogo e arteterapeuta, a arteterapia é uma ferramenta utilizada na prevenção e promoção da saúde mental, pois estimula o inconsciente e a subjetividade facilitando, reduzindo, minimizando os efeitos negativos que a doença ou os transtornos proporcionam e também ajudando na resolução de conflitos e das emoções e desenvolvimento do autoconhecimento.

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