Bulimia: sinais físicos, psicológicos e comportamentais desse transtorno
“Vou te contar uma história bem comum.
Talvez ela seja a sua ou de uma pessoa perto de você.
Depois de uma dieta restritiva, você começa a perceber que começam a acontecer episódios onde você não tem nenhum controle sobre o que come, ou quanto come. Quando você vê, comeu uma quantidade enorme de comida (geralmente lanches e doces) em um tempo pequeno, e está passando mal.
Sua barriga dói, parece que vai explodir. Aí você cai em si, imagina o quanto vai engordar depois disso tudo! Então, toma a decisão de colocar tudo para fora e fugir dessa consequência no corpo. Afinal, amanhã você volta a comer normal e tudo bem.
Mas isso começa a se repetir, uma vez por semana, depois vai aumentando a frequência. Você não quer admitir, mas está com um transtorno alimentar chamado bulimia nervosa. E ninguém sabe, porque você não engorda, nem emagrece consideravelmente. Tudo parece normal como antes para quem olha de fora. Mas você está em sofrimento”.
(Texto de Carol Avileis)
O que é bulimia?
Bulimia ou bulimia nervosa é um transtorno alimentar que se caracteriza por episódios recorrentes e incontroláveis de consumo de grandes quantidades de alimentos, geralmente com alto teor calórico, seguidos de reações inadequadas para evitar o ganho de peso, tais como indução de vômitos, uso de laxativos e diuréticos, jejum prolongado e prática exaustiva de atividade física.
Pessoas com bulimia, em geral, possuem uma visão bastante distorcida da sua aparência física. Preocupam-se excessivamente com o peso corporal, o que pode afetar diretamente a autoestima de acordo com a forma como se autoavaliam.
Nos portadores de bulimia, não é a magreza que chama a atenção. Em geral, são mulheres jovens de corpo escultural, que cuidam dele de forma obsessiva. Seguem dietas rigorosas. De repente, perdem o controle e ingerem uma quantidade absurda de alimentos, na maior parte das vezes, às escondidas. Depois, são tomadas por sentimentos de remorso ou culpa.
Os recursos de que se valem para não engordar provocam complicações no organismo. Por exemplo: destruição do esmalte dos dentes, inflamação na garganta, sangramentos, problemas gastrintestinais, arritmias cardíacas, desidratação etc. Este transtorno alimentar é grave e pode ser fatal. Anualmente, aproximadamente uma em cada 100 mulheres jovens apresenta bulimia nervosa. O transtorno é muito menos frequente em homens.
Os motivos para o desenvolvimento de bulimia nervosa diferirão de pessoa para pessoa. As causas conhecidas incluem predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais, sociais e culturais.
Sintomas de Bulimia Nervosa
A pessoa com bulimia nervosa tem episódios repetidos de compulsão alimentar. Ou seja, ela ingere uma quantidade de alimentos muito maior que a maioria das pessoas consumiria em um período semelhante e em circunstâncias semelhantes. A quantidade considerada excessiva para uma refeição normal pode diferir da quantidade considerada excessiva para uma refeição comemorativa.
O estresse emocional muitas vezes desencadeia os episódios de compulsão alimentar, que geralmente são praticados em segredo. A compulsão alimentar, que é acompanhada de uma sensação de perda de controle, normalmente consiste em comer sem ter fome e comer a ponto de ter desconforto físico.
A pessoa tende a consumir alimentos com alto teor de açúcar e de gordura, como sorvete e bolo. A quantidade de alimento consumida varia, chegando às vezes a milhares de calorias. Os episódios de alimentação compulsiva podem ocorrer várias vezes por dia.
Você sabia que…
A pessoa com bulimia nervosa pode ter cicatrizes nas articulações dos dedos de tanto usá-los para autoinduzir o vômito?
Vários meios podem ser utilizados na tentativa de contrabalançar os efeitos do consumo excessivo de alimentos:
- Praticar a purgação, por exemplo, induzindo o próprio vômito (vômito autoinduzido) ou tomando laxantes ou diuréticos (medicamentos que fazem os rins excretar mais água)
- Seguir regimes ou jejuns rigorosos
- Praticar exercícios em excesso
- Tomar diuréticos para tratar um suposto inchaço
- Qualquer combinação dos itens acima
Os vômitos autoinduzidos podem provocar erosão no esmalte dentário, fazer com que as glândulas salivares nas bochechas (glândulas parótidas) fiquem aumentadas e causar inflamações no esôfago. O vômito e a purga podem diminuir os níveis de potássio no sangue, causando arritmias cardíacas. Morte súbita em decorrência de arritmias cardíacas pode ocorrer em pessoas que constantemente ingerem grandes quantidades de ipecacuanha para induzir o vômito. Em alguns casos raros, ocorre a ruptura do estômago ou do esôfago durante um episódio de compulsão alimentar ou purgativo, gerando complicações que podem ser fatais.
Em comparação com as pessoas que sofrem de anorexia nervosa, as que sofrem de bulimia nervosa tendem a ser mais conscientes do seu comportamento, o que faz com que elas sintam remorso ou culpa. Essas pessoas têm mais propensão a partilhar suas preocupações com o médico ou com outro confidente. Em geral, as pessoas com bulimia nervosa são mais extrovertidas. Elas também são mais propensas a ter um comportamento impulsivo, abuso de drogas ou de álcool e depressão. Elas sentem ansiedade em relação ao seu peso e em relação à sua participação em atividades sociais.
Bulimia Nervosa: quais são os sinais de alerta?
A conscientização sobre bulimia, seus sinais e sintomas de alerta podem fazer uma diferença acentuada no diagnóstico, tratamento e duração da doença. Procurar ajuda no primeiro sinal de alerta é muito mais eficaz do que esperar até que a doença esteja em pleno andamento. Se você ou alguém que você conhece está exibindo algum sintoma ou uma combinação dos sinais, é vital procurar ajuda e apoio o mais rápido possível.
Os sinais de alerta de bulimia nervosa podem ser físicos, psicológicos e comportamentais. É possível que alguém com bulimia exiba uma combinação desses sintomas.
Sinais Físicos:
- Mudanças frequentes de peso (perda ou ganho)
- Sinais de danos devido ao vômito, incluindo inchaço em torno das bochechas ou mandíbula, calos nas juntas, dano aos dentes e mau hálito
- Sensação de inchaço
- Constipações intestinais
- Desenvolvimento de intolerância à determinados alimentos
- Perda ou perturbação dos períodos menstruais em meninas e mulheres
- Desmaio ou tonturas
- Hemorroidas
- Sensação de cansaço, fadiga e alterações no sono
Sinais Psicológicos:
- Preocupação excessiva com a alimentação, comida, corpo e peso
- Sensibilidade aos comentários relacionados com alimentos, peso, forma do corpo ou exercício físico
- Baixa autoestima, sentimentos de vergonha, autoaversão ou culpa, particularmente depois de comer
- Ter uma imagem do corpo distorcida (por exemplo, ver-se com excesso de peso mesmo que estejam em uma faixa de peso saudável para sua idade e altura)
- Obsessão com alimentos e necessidade de controle das calorias
- Depressão, ansiedade ou irritabilidade
- Insatisfação extrema do corpo
Sinais comportamentais:
- Evidência de compulsão alimentar (por exemplo, desaparecimento ou acumulação de alimentos)
- Vomitar, usar laxantes, enemas, supressores de apetite ou diuréticos
- Comer escondido e evitar refeições com outras pessoas
- Comportamento antissocial, passando cada vez mais tempo sozinho
- Comportamentos repetitivos ou obsessivos relacionados à forma e ao peso do corpo (por exemplo, pesar-se repetidamente, olhar-se no espelho obsessivamente, comprimindo a cintura ou os pulsos)
- Comportamento “mentiroso” em torno dos alimentos (por exemplo, dizer que comeram quando não o fizeram, esconder alimentos não consumidos em seus quartos)
- Exercício compulsivo ou excessivo (por exemplo, exercitar-se em mau tempo, continuar a exercitar-se quando está doente ou ferido e sofrer ou sentir-se triste se o exercício não for possível)
- Comportamento de dieta (por exemplo, praticar jejum, contagem de calorias, evitar determinados grupos de alimentos, como gorduras e carboidratos)
- Idas frequentes ao banheiro durante ou logo após as refeições, o que pode ser evidência de vômito ou uso de laxante
- Comportamento errático (por exemplo, gastando grandes quantidades de dinheiro em alimentos)
- Mudanças no estilo da roupa (por exemplo, vestindo roupas largas)
- Rituais obsessivos em torno da preparação de alimentos e comer (por exemplo, comendo muito devagar, cortando alimentos em pedaços muito pequenos, insistindo que as refeições são servidas exatamente na mesma hora todos os dias)
- Alterações nas preferências alimentares (por exemplo, alegando não gostar dos alimentos anteriormente apreciados, preocupação súbita com “alimentação saudável” ou substituição de refeições por líquidos)
- Autodano, abuso de substâncias ou tentativas de suicídio
Diagnóstico de Bulimia
O médico faz o diagnóstico de bulimia nervosa, sobretudo em mulheres jovens, quando a pessoa:
- Relata comer compulsivamente no mínimo uma vez por três meses ou mais
- Sente que perde o controle durante e após o episódio de compulsão alimentar
- Compensa os episódios de compulsão alimentar ao praticar a purgação (por exemplo, autoinduzindo o vômito ou tomando laxantes), jejum ou exercícios em excesso
- Expressa uma forte preocupação com o ganho de peso e baseia sua autoimagem principalmente no peso e na forma física
O médico também verifica se há outros indícios que dão respaldo a um diagnóstico de bulimia nervosa:
- Amplas variações no peso, sobretudo se houver indícios do uso excessivo de laxantes (por exemplo, diarreia e cólicas abdominais)
- Inchaço das glândulas salivares nas bochechas
- Cicatrizes nas articulações dos dedos de tanto usá-los para induzir o vômito
- Erosão do esmalte dentário devido ao ácido estomacal
- Níveis baixos de potássio, detectados por um exame de sangue
Tratamento do Transtorno
Ao considerar as abordagens de tratamento para um transtorno alimentar, é importante entender que diferentes pessoas respondem a diferentes tipos de tratamento, mesmo que estejam com o mesmo transtorno alimentar.
Em geral, uma pessoa com transtorno alimentar precisará de uma combinação de tratamentos como parte de um programa de recuperação. Alguns tratamentos são mais adequados a distúrbios alimentares específicos do que outros e uma abordagem multidisciplinar ao tratamento é muitas vezes a melhor maneira de tratar a bulimia.
Terapias a serem consideradas para o tratamento de bulimia incluem:
- Terapia cognitivo-comportamental e/ou Psicoterapia Interpessoal
- Reeducação alimentar
- Acompanhamento psiquiátrico para prescrição de medicação
- Participação em grupos de apoio pode ser útil para pacientes em condições estáveis, que não têm nenhum problema de saúde
Os antidepressivos (em especial os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, sigla em inglês ISRS) também podem ser prescritos para alguém que sofre de bulimia. As principais drogas que fazem parte desta classe são: paroxetina, sertralina, escitalopram, citalopram e fluoxetina.
Todavia, apesar do uso de medicamentos poder ser uma ótima opção, o ideal é que esse tratamento seja combinado com o acompanhamento psicológico. Pesquisas comprovam que a combinação de ambos é o que gera maior resultado. A psicoterapia garante um cuidado geral e contínuo para o paciente.
Educação Nutricional
A orientação nutricional deve ser realizada por um nutricionista, médico endocrinologista ou um nutrólogo. A reeducação alimentar e acompanhamento por um profissional de saúde especializado em nutrição é fundamental para garantir que a pessoa com o transtorno alimentar esteja recebendo o nível certo de vitaminas e minerais ao longo do processo de tratamento. O nutricionista acompanhará o paciente e o ajudará a desenvolver hábitos e comportamentos alimentares normais e benéficos para sua saúde.
Medicação
As abordagens baseadas em medicamentos são muitas vezes vitais quando alguém com transtorno alimentar também possui outro tipo de transtorno ou doença, como depressão, ansiedade, insônia ou psicose. Isso é conhecido como um transtorno comórbido.
Os medicamentos podem ser prescritos por psiquiatras, clínico geral ou um gastroenterologista. Em casos de bulimia, a medicação deve ser utilizada em conjunto com os tratamentos multidisciplinares, com psicólogos e nutricionistas.
É possível recuperar-se da bulimia?
Sim. É possível recuperar da bulimia nervosa mesmo que o paciente tenha vivido com a doença por muitos anos mas o caminho para a recuperação pode ser muito desafiador. As pessoas com bulimia podem ficar imersas em um círculo vicioso de comportamentos de alimentação e exercício que podem afetar sua capacidade de pensar com clareza e tomar decisões. No entanto, com a equipe certa e um alto nível de compromisso pessoal, a recuperação é um objetivo totalmente alcançável.
Como a Clínica Jequitibá pode te ajudar?
A Clínica Jequitibá Saúde Mental tem uma equipe de profissionais multidisciplinares preparados para atender pacientes que sofrem de Transtornos Alimentares. Este tipo de transtorno ilustra claramente os vínculos estreitos entre saúde emocional e física. O primeiro passo no tratamento da bulimia nervosa é interromper o ciclo de purga-purga mas, no entanto, somente isto não resolve os problemas emocionais subjacentes que causam ou são agravados pelo comportamento alimentar anormal.
Nossa equipe médica de psicoterapia ajuda os indivíduos com Transtornos Alimentares a entender os pensamentos, emoções e comportamentos que desencadeiam esses transtornos e, além disso, alguns medicamentos também provaram ser eficazes no processo de tratamento.
Devido aos sérios problemas físicos causados por essas doenças, a Clínica Jequitibá Saúde Mental inclui no plano de tratamento para uma pessoa com bulimia nervosa cuidados médicos gerais, manejo nutricional e aconselhamento nutricional.
Não espere o problema se agravar. Agende já um horário e saiba como podemos ajudar você ou seu ente querido a reconstruir o bem-estar físico e retomar as práticas alimentares saudáveis.
Fontes: