Demência: como lidar?

Embora a grande maioria das pessoas envelheça sem grande comprometimento cognitivo, é importante considerar que, no âmbito da assistência à saúde do idoso, uma especial atenção deve ser dada às pessoas que vivenciam um processo de demência.

Na verdade, essa assistência é principalmente prestada pela família, centrada na figura do cuidador principal.

Quem devem ser os cuidadores?

O cuidador principal é aquele que tem a total ou a maior responsabilidade pelos cuidados prestados ao idoso dependente, no domicílio. Os cuidadores secundários são os familiares, voluntários e profissionais, que realizam atividades complementares.

Usa-se a denominação ‘cuidador formal’ (principal ou secundário) para o profissional contratado (auxiliar de enfermagem, acompanhante, empregada doméstica etc.) e ‘cuidador informal’ para os familiares, amigos e voluntários da comunidade.

Como é o cotidiano dos cuidadores?

Em relação ao cotidiano dos cuidadores, à medida que a pessoa vai desenvolvendo um processo demencial, há uma mudança de papéis dos membros da família.

Se o doente é um dos pais, os filhos adultos assumem a função de decidir e assumir as responsabilidades dos pais. O filho adulto torna-se cuidador e ficará sobrecarregado com essa função, que se soma às atribuições familiares e a seu emprego.

Frequentemente os familiares se veem limitados, e os sentimentos de desespero, raiva e frustração alternam-se com os de culpa por ‘não estar fazendo o bastante’ por um parente amado.

A rotina doméstica altera-se completamente.

Geralmente há uma perda da atividade social da família. Muitos amigos não entendem as mudanças ocorridas com a pessoa que se torna demente e se afastam.

O aumento da despesa também é fator preocupante para a família.

Geralmente, as decisões de assumir os cuidados são mais ou menos conscientes, e os estudos revelam que, embora a designação do cuidador seja informal e decorrente de uma dinâmica, o processo parece obedecer a certas regras, refletidas em quatro fatores:

  • parentesco – com frequência maior para os cônjuges, antecedendo sempre a presença de algum filho;
  • gênero – com predominância para a mulher;
  • proximidade física – considerando quem vive com a pessoa que requer os cuidados;
  • proximidade afetiva – destacando a relação conjugal e a relação entre pais e filhos.

A dinâmica da atenção ao idoso que vive um processo de demência tem toda uma estrutura específica que difere da assistência ao idoso sem comprometimento cognitivo.

Vivenciar um processo que apresenta um curso de deterioração progressiva pode ter efeitos devastadores nas pessoas afetadas e em seus familiares.

O idoso e sua família necessitam de uma rede de apoio ampla, que inclui desde o acompanhamento ambulatorial da pessoa doente até o suporte estratégico, emocional e institucional para quem cuida.

Mas, o que é a demência?

A demência tem assumido maior importância como problema de saúde pública devido ao aumento da população envelhecida em todo o mundo, particularmente na faixa etária acima dos 80 anos.

Por ser um processo geralmente irreversível e para o qual não há perspectiva de intervenção medicamentosa nem indicação de institucionalização, é fundamental que a família e a comunidade aprendam a conviver e lidar com uma realidade cada vez mais comum: a existência de pessoas em processo demencial.

Hoje, a demência é reconhecida como uma síndrome caracterizada por deterioração intelectual que ocorre em adultos e é tão severa que interfere no desempenho social da pessoa.

Como se manifesta e desenvolve o processo demencial?

Ocorrem alterações cognitivas que incluem distúrbios de memória, linguagem, percepção, práxis, habilidade de desempenhar o autocuidado, capacidade de solucionar problemas da vida cotidiana, pensamento abstrato e capacidade de fazer julgamentos.

Fase Inicial

A fase inicial da doença pode passar de forma despercebida. Ocorrem episódios de lapsos de memória, que muitas pessoas conseguem compensar ou disfarçar por meio de estratégias como o uso de agendas ou outras formas de auxílio à memória.

No entanto, progressivamente, a pessoa passa a ter dificuldades para tomar decisões e fazer planos, torna-se cada vez mais vagarosa ao falar e compreender, perde progressivamente a capacidade de manter a atenção, ter iniciativas e fazer cálculos.

Então, passa a evitar interação social, pois já está com dificuldade de participar de uma conversação. Sua memória começa a falhar, de forma que, inicialmente, as informações recentes se perdem e, progressivamente, as antigas também.

Já nessa fase podem ocorrer situações de pânico, geralmente causadas pelos lapsos de memória, que deixam a pessoa subitamente desorientada. Esse estado gera grande angústia e agitação para aquele que está desenvolvendo um processo de demência e para o cuidador.

É frequente, também nessa fase, que a pessoa fique bastante deprimida, pois como ainda está lúcida a maior parte do tempo, percebe seu estado mental se deteriorando. Essa consciência a deixa muito triste, o que se manifesta em um crescente isolamento ou recusa a participar de reuniões familiares ou sociais.

Nessa etapa da evolução da doença, os profissionais que acompanham a pessoa devem procurar envolver a família na assistência, enfatizando a necessidade de compreensão do que sente o idoso, a partir do entendimento do diagnóstico e prognóstico da patologia.

Também é necessário que nessa fase se oriente a família em relação às medidas de controle da ansiedade e da agitação. Podem-se trabalhar com o idoso técnicas de orientação para a realidade, para estimulá-lo a se manter consciente de informações orientadoras corretas. A reabilitação cognitiva nesse início do processo demencial contribui para retardá-lo.

Segunda Fase ou Fase Intermediária

A segunda fase, ou fase intermediária, é caracterizada pelo aumento do grau de dependência, na medida em que a pessoa já necessita de supervisão e ajuda para o autocuidado.

Ela passa a ter grande dificuldade para manter adequadamente a sua higiene pessoal. Como sua capacidade de julgamento ou discernimento se encontra prejudicada, a pessoa passa a apresentar comportamento inadequado e aumenta a necessidade de atenção à segurança.

 A casa precisa ser adaptada para isso. Surgem mudanças marcantes no comportamento, o que exige a presença de acompanhante para ir a qualquer lugar. Frequentemente o doente inventa palavras e histórias e não reconhece pessoas.

Apresenta também desorientação espaço-temporal, podendo desconhecer inclusive a sua própria casa. É frequente acontecer, quando estão agitados e ansiosos, de pedirem para voltar para sua casa, referindo-se ao local onde passaram a infância ou a juventude.

A família costuma sofrer bastante nessa etapa não só pela necessidade de exercer vigilância permanente e controle da pessoa, mas também pela letargia e indiferença afetiva que a pessoa apresenta.

Os familiares se entristecem e geralmente se sentem impotentes e já não sabem como agir. Na verdade, é necessário que os familiares aprendam uma nova forma de lidar com o seu idoso.

Embora o idoso apresente indiferença afetiva a estímulos que no passado a teriam motivado, mantém uma afetividade inalterada, ou seja, ela necessita e aceita com satisfação carinhos, afagos, abraços e palavras carinhosas de qualquer pessoa, mesmo que não a esteja reconhecendo.

Por isso, quem desempenha o papel de cuidador principal é a ‘âncora’ do idoso. Sua segurança e tranquilidade dependem da percepção que tem da segurança e da tranquilidade que o cuidador principal lhe transmite.

Os profissionais responsáveis pelo acompanhamento deverão enfatizar nessa fase a prevenção de acidentes, as orientações sobre alimentação e medicação, o estabelecimento de rotinas para as eliminações fisiológicas e o reconhecimento de outros códigos de comunicação, pois o idoso já não consegue expressar verbalmente o que está querendo ou sentindo.

É preciso desenvolver a habilidade de se comunicar com ele utilizando outros códigos.

Muitos idosos, principalmente aqueles que foram bem ativos no passado, poderão sentir necessidade de caminhar, o que chamamos de ‘perambulação’. Nesse caso, não se pode impedi-los, apenas verificar que não o estejam fazendo compulsivamente além das suas forças e que haja proteção ambiental.

Se não houver condições de o idoso caminhar dentro de casa e precisar ir para a rua, deve estar acompanhado e usar alguma forma de identificação.

Fase Final

A fase final é marcada pela dependência total da pessoa. Há necessidade de cuidados integrais no leito permanente, devido à perda da atividade psicomotora. Nesse momento, os profissionais da equipe de enfermagem deverão orientar os cuidadores para prestarem os cuidados básicos, priorizando o conforto e o afeto.

É importante manter o suporte familiar. Toda a equipe profissional deve estar apoiando a família que vivencia as perdas progressivas e a iminência da morte

Quem cuida também precisa de cuidados

É fundamental para a atenção ao idoso que seus familiares sejam vistos nas suas singularidades. É como seres singulares que precisam ser ouvidos, suas necessidades detectadas e, a partir deste diagnóstico, receber cuidados.

Os cuidados a serem prestados aos familiares dos idosos em processo demencial devem garantir apoio à sua desgastante tarefa. Esse apoio não significa apenas transmitir informações sobre a doença e orientações gerais sobre o cuidado.

Não se podem considerar os cuidadores meros cumpridores de orientações padronizadas. Pois, quando se tratam pessoas como objetos de prescrições, anulam-se as possibilidades de serem elas mesmas livres para tomar decisões e exercitar a criatividade.

É preciso que os profissionais da saúde compreendam que o fato de os cuidadores cumprirem as prescrições e orientações não significa que as necessidades do idoso estejam plenamente atendidas.

O ideal é que tais pessoas participem das decisões sobre os rumos da assistência ao idoso, sabendo que contarão com o suporte técnico.

Quando os cuidadores contam com uma estrutura de apoio institucional, estratégico, material e emocional, têm a possibilidade de exercer o cuidado e permanecer inseridos socialmente sem imobilizar-se pela sobrecarga determinada pela difícil e estafante atenção ao doente em processo demencial.

Um cuidador que recebe apoio adequado busca aprender e descobrir novas estratégias para lidar com o seu ente querido, reduzindo os desencontros entre as necessidades de ambos.

Com isso, é possível que aprenda a fazer ajustes no seu cotidiano e não anule as suas próprias possibilidades de continuar a ter uma vida própria.

Embora muitas vezes o desespero, a angústia, o turbilhão de emoções que emergem da vivência dos cuidadores possam se apresentar como prioridades para o profissional da saúde que os atende, é preciso estender a atenção para além destas manifestações emocionais e atingir as suas demandas objetivas.

O que os cuidadores familiares revelam é que, mais do que compreensão, precisam de apoio estratégico e institucional, pois suas necessidades não são apenas de ordem emocional.

São necessidades objetivas e subjetivas, como a de poder contar com estruturas confiáveis para acompanhar o seu familiar idoso e atender a eles próprios, que se esgotam e necessitam de atenção.

Como a Clínica Jequitibá Saúde Mental pode ajudar?

A Clínica de Transtornos Mentais Jequitibá nasceu da necessidade de ajudar indivíduos com demência e os mais variados transtornos mentais a se reencontrarem e a viverem novamente em sociedade da forma mais saudável.

Além disso, estamos capacitados a dar todo o apoio e orientação que os cuidadores precisam para fornecer a assistência ao idoso em processo demencial.

Contamos com os melhores e mais qualificados profissionais do mercado, além de termos equipamentos clínicos de última geração, o que garante um diagnóstico bem-feito e uma recuperação bem-sucedida.

A infraestrutura de nossa clínica é de alto padrão. Estamos localizados em Atibaia e possuímos ambientes completamente adaptados, tudo de acordo com a legislação vigente, para proporcionar a máxima segurança e um clima mais familiar. Os pacientes internados em nossa Clínica de Transtornos Mentais são supervisionados 24 horas por dia e estão em constantes atividades.

Contate-nos para uma conversa e para uma avaliação individual, conforme as reais necessidades e limitações de cada pessoa.

http://books.scielo.org/id/d2frp/pdf/minayo-9788575413043-05.pdf

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