Infância e Síndrome do Pânico

Você já ouviu falar em síndrome do pânico? Ela é caracterizada basicamente por crises que duram, em geral, entre 5 a 30 minutos, em que a pessoa sente um medo intenso, muitas vezes injustificado, acompanhado por sintomas físicos como palpitações, dor no peito e sudorese.

Essa síndrome, que acomete 3,5% da população não é exclusividade dos adultos, uma vez que também atinge muitas crianças. A diferença é que as crianças muitas vezes não sabem explicar o que sentem, o que pode dificultar o diagnóstico.

 

Relato de um caso

Aos seis anos, Beatriz (nome fictício) começou a fazer observações recorrentes sobre chuva, vento ou trovoadas. Os pais só achavam curioso, até que os inocentes comentários evoluíram para uma crise de ansiedade à beira da piscina de um hotel no interior de São Paulo, em um dia ensolarado de dezembro. Com a aproximação de nuvens e ameaça de chuva, Bia perdeu o controle: ficou extremamente aflita, respirava rapidamente, passou a suar e a aumentar a frequência dos batimentos cardíacos. Desesperada, ela saiu correndo para dentro do hotel, pedindo que os pais e a irmã mais nova se refugiassem junto.

Desde então, a garota não consegue mais sair para lugares ao ar livre – parques, praças ou passeios pela rua saíram de sua rotina. A garota exibe sintomas comuns da síndrome do pânico infantil, um transtorno de ansiedade que apenas nos últimos anos vem chamando a atenção dos especialistas.

 

Sintomas da síndrome do pânico na infância

Em geral, a síndrome do pânico infantil não difere da manifestação em adultos: há sintomas no corpo e na mente. Normalmente, é marcada pelas crises de ansiedade – que podem durar de cinco minutos até meia hora e, em casos mais graves, uma hora – e por algum tipo de fobia (como o medo da natureza de Bia). Se não tratada, ela pode aumentar as chances do desenvolvimento de TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), hipocondria e depressão.

Durante a crise, a criança se sente muito ansiosa, angustiada e produz diversos sintomas físicos, como: aumento da frequência cardíaca, sensação de pressão no peito, falta de ar, sufocamento, tonturas, tremores, desmaios, dormência nas extremidades.

Além disso, a criança sente que pode morrer a qualquer momento ou que está perdendo o controle e enlouquecendo. São os mesmos sintomas de um adulto, mas é muito mais difícil lidar com isso na infância.

As crises podem ou não ser desencadeadas por um estímulo. Isto é, o indivíduo pode estar exposto ao foco do medo, mas também estar tranquilamente no sofá, assistindo à televisão.

Após enfrentar as primeiras crises, a criança adquire uma “meta-ansiedade”: o medo de ficar ansiosa novamente. Ela evitará situações ou lugares onde sofreu o ataque de pânico, por medo de sentir o que sentiu. Isso aumenta o comprometimento da vida, e ela pode deixar de fazer o que fazia normalmente, associando a crise ao lugar em que ela estava e evitar se expor a mesma situação.

Por exemplo, se a criança teve uma crise de pânico no ônibus escolar, ela pode começar a sentir medo de ir de ônibus para a escola.

A longo prazo, isso pode causar baixo rendimento escolar, depressão ou abuso de bebidas e drogas, se não for feito o tratamento, porque o jovem se frustra ao longo do tempo, ao ficar isolado em casa.

Quando a criança começa a evitar ir a lugares específicos, os pais devem ficar alerta, pois pode ser um primeiro sinal da síndrome.

Comportamentos evitativos são sinais de transtorno de ansiedade, que trazem uma preocupação excessiva em relação ao mundo. Em crianças, a síndrome do pânico pode ser marcada, além dos conhecidos “ataques de pânico”, por terrores noturnos (pesadelos que fazem gritar, chorar e tremer) e a necessidade de ficar o tempo todo perto dos pais.

Para elas, a preocupação não é uma simples birra. Para quem sofre de síndrome do pânico, o medo assume contornos horripilantes: a possibilidade de perigo é tão real quanto a presença, de fato, do perigo. Essa luva de angústia que envolve o pensamento incapacita para atividades do dia a dia. E o medo da natureza, da violência urbana, de altura, de grupos ou de pessoas, por exemplo, impede o indivíduo de sair de casa, entrar no carro e ir para lugares com multidões.

Não há dados sobre a incidência de síndrome do pânico em crianças no Brasil. Mas cerca de 5% das crianças e adolescentes ocidentais sofrem de algum transtorno de ansiedade, conforme a Associação Internacional de Psiquiatria da Infância e Adolescência e Profissões Afins (IACAPAP, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

Menino triste e assustado devido à síndrome do pânico

A síndrome do pânico pode melhorar ou piorar sem uma razão específica, com os sintomas desaparecendo espontaneamente ou retornando. O tratamento é a única forma de garantir a melhora definitiva dos sintomas do transtorno nas crianças.

 

Causas da Síndrome de Pânico Infantil

Pais, não adianta se culpar. A síndrome do pânico é resultado da interação entre herança genética e a relação do indivíduo com o ambiente, explica o psiquiatra Fernando Asbahr. “Ter ou não quadros de ansiedade depende da predisposição genética”, diz o médico. Famílias com histórico de transtornos de ansiedade (pais, tios ou avós) têm mais chance de descendentes adquirirem o mesmo problema.

Apesar do gene influenciar, ele não explica tudo – se fosse assim, pais com síndrome do pânico teriam todos os filhos com a mesma vivência. Entra, aqui, a interação da pessoa com o ambiente, que fará (ou não) a doença se manifestar. Isso inclui desde uma experiência traumática (como bullying, um assalto, um acidente de carro, o testemunho de um incêndio ou de uma tempestade) quanto pais ansiosos e estressados, que ensinam ao filho a encarar a realidade de forma semelhante.

Às vezes, a família é excessivamente protetora e tem uma visão muito negativa das coisas. Isso faz a criança ver o mundo sob a ótica do medo e de que as coisas vão dar errado. Como resultado, a criança visualiza a possibilidade de que algo dê errado no futuro (o que de fato, pode ocorrer – com qualquer um) como uma sentença de que o pior cenário vai acontecer. Viver torna-se, aos poucos, a tentativa de evitar uma catástrofe.

 

Como é feito o diagnóstico?

Quando a criança começa a sentir crises de pânico com frequência e prejudicar seu desempenho e relações sociais, os pais devem ligar o alerta e encaminhar o filho até um profissional.

Os pais precisam entender que as crianças podem sentir as mesmas coisas que os adultos, mas como ainda não tem maturidade para se comunicar ou lidar com os sentimentos, acabam sofrendo sem saber como pedir ajuda.

Por isso é importante não diminuir o sofrimento dos pequenos a puramente birra.

Somente o médico psiquiatra ou psicólogo pode avaliar o caso e diagnosticar a síndrome do pânico, através dos relatos da própria criança, da família e com exame físico para eliminar possibilidades de outros problemas de saúde.

Muitas vezes as crises de pânico são derivadas de outros transtornos de saúde mental e somente o profissional pode identificar essas particularidades.

 

Tratamento da síndrome do pânico na infância

Quando um adulto está sofrendo com a síndrome do pânico, uma das primeiras abordagens é a medicamentosa.

No caso das crianças, os medicamentos não são considerados o tratamento de primeira escolha. O ideal é uma abordagem multiprofissional, com orientação aos pais, à criança, tratamento psicoterápico e uso de medicamentos só em casos de maiores necessidades.

É muito importante seguir as recomendações médicas, não culpar ou cobrar a criança, respeitar seu tempo para a melhora dos sintomas do transtorno do pânico e não supervalorizar a doença, para não apavorar o pequeno paciente.

A criança precisa sentir-se segura e valorizada, amada e apoiada pela família, para aprender a lidar com seus sentimentos.

 

Cuide dos pequenos!

Se perceber que alguma criança próxima está passando por episódios de crises de pânico ou ansiedade de separação, não se desespere – estamos aqui para te ajudar. A primeira coisa que você deve fazer, é agendar uma consulta na Clínica Jequitibá Saúde Mental.

Não deixe que os pequenos tenham o desenvolvimento prejudicado por conta de um problema tratável. O tratamento permite uma vida saudável – incluindo, futuramente, a perda da fobia. A longo prazo, a medicina já tem boas orientações para controlar a ansiedade: a prática de exercícios físicos, de yoga e de meditação são algumas delas.

 

Fonte: Psiquiatria Paulista e E-mais Estadão

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