O Toque Afetivo e a Saúde Mental

Neste momento de pandemia e da necessidade do isolamento social, estamos sentindo muita falta de contato físico e um toque afetivo, o que tem provocado ou agravado, em algumas pessoas, problemas com a sua saúde mental.

Mas qual a relação entre o toque afetivo e a saúde mental das pessoas?

Há vários bons motivos para que o toque, o abraço e o beijo nas pessoas que amamos seja algo reconfortante.

Quando tocamos, abraçamos ou beijamos um amigo ou parceiro, por exemplo, esse gesto é carregado de significado. Procuramos afeto, tentamos estabelecer uma conexão ou podemos estar tentando comunicar uma necessidade.

No entanto, alguns especialistas expressaram preocupação de que as sociedades ocidentais estejam passando por um momento de crise, à medida que o toque físico se torna mais estritamente regulado e estamos cada vez menos propensos a nos engajar em atos sociais como abraços.

Naturalmente, o toque físico nem sempre é bem-vindo e nem sempre é apropriado. Entre estranhos, pode ser um ato de violação.

Como pesquisadores da Finlândia observaram em um estudo publicado em 2017, o fato de o toque produzir um efeito positivo ou negativo é altamente dependente do contexto em que ocorre.

“O toque não leva universalmente a emoções positivas”, explicam. Por exemplo, eles observam que “as diferenças culturais podem resultar em que o toque seja interpretado como uma violação da distância interpessoal preferida”.

Ao mesmo tempo, a pesquisa também descobriu que o toque é importante para os humanos quando se trata de comunicar emoções e manter relacionamentos – tanto românticos quanto não.

Vejamos então a importância e os benefícios de tocar, abraçar e beijar para a saúde física, a saúde mental e o bem-estar de uma pessoa.

Por que o toque é tão importante?

Estudos famosos demonstraram que as crianças – assim como os bebês de primatas não humanos – que crescem sem o toque afetivo têm graves problemas de desenvolvimento e são incapazes de se relacionar socialmente.

Tocando e sendo tocados, ativamos áreas específicas de nosso cérebro, influenciando assim nossos processos de pensamento, reações e até respostas fisiológicas ou desenvolvimento positivo da saúde mental.

Por exemplo, um estudo relatou que exames cerebrais revelaram que o toque afetivo ativa o córtex orbito frontal, uma região do cérebro associada à aprendizagem e à tomada de decisões, bem como a comportamentos emocionais e sociais.

Alguns experimentos também sugeriram que beijos românticos são uma ferramenta importante – especialmente para mulheres – quando se trata de escolher um parceiro, porque o coquetel químico personalizado encontrado na saliva de um indivíduo transmite informações importantes ao cérebro sobre sua compatibilidade fisiológica.

O toque também pode ser reconfortante e tranquilizador para uma pessoa em perigo, já que pode comunicar uma oferta de apoio e empatia.

Um estudo da Suécia – cujas descobertas foram publicadas no ano passado na revista Pesquisa sobre Linguagem e Interação Social – descobriu que abraçar e acariciar crianças em sofrimento tem um efeito calmante para elas.

Em tal circunstância, explicam os autores do estudo, a interação envolve a sinalização do adulto de que eles estão disponíveis para oferecer contato calmante, seguido pelo reconhecimento da criança deste convite e uma resposta positiva a ele.

A interação e a coordenação envolvidas nesse cenário permitem que a criança em sofrimento reconquiste uma sensação de segurança e tranquilidade como efeito terapêutico em sua saúde mental.

Como resultado disso, há também muitos debates em torno do uso do toque durante o aconselhamento, principalmente perguntando se os benefícios potenciais superam os perigos éticos.

Os cientistas reconhecem que o toque tem um valioso potencial terapêutico e que algumas pessoas podem se beneficiar de um toque tranquilizante no ombro quando estão se sentindo para baixo.

Benefícios psicológicos

Mulher se sentindo bem pelo toque de outra pessoa

De fato, procuramos receber e dar abraços às pessoas que amamos, precisamente porque desencadeiam um padrão neural de conforto e afeição.

Um estudo descobriu que as mulheres que ofereciam o toque físico como um símbolo de apoio aos seus parceiros, mostraram maior atividade no estriado ventral, que é uma área do cérebro envolvida no sistema de recompensa.

Assim, oferecer um abraço reconfortante a uma pessoa que está sofrendo ou sentindo-se mal pode realmente beneficiar a saúde mental tanto do receptor quanto do doador; ambas as pessoas envolvidas na interação experimentam mais emoções positivas e sentem-se mais fortemente ligadas umas às outras.

Além disso, uma série de estudos realizados por pesquisadores holandeses mostrou que abraçar poderia aliviar os sentimentos de medo existencial de uma pessoa e mesmo remover suas inseguranças em efeito terapêutico na saúde mental.

“Mesmo instâncias passageiras e aparentemente triviais de contato interpessoal podem ajudar as pessoas a lidar de forma mais eficaz com a preocupação existencial”, diz o pesquisador Sander Koole, da Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda.

“Nossas descobertas mostram que mesmo tocar um objeto inanimado – como um ursinho de pelúcia – pode amenizar os medos existenciais. O toque interpessoal é um mecanismo tão poderoso que até mesmo objetos que simulam o toque de outra pessoa podem ajudar a incutir nas pessoas um sentido existencial. ” (Sander Koole)

Outra pesquisa revelou que compartilhar a comunicação não-verbal de afeto – que inclui ações como abraços e beijos – pode amortecer efeitos do estresse e acelerar o processo de recuperação da saúde mental de uma pessoa em estado mental “irregular” ou fora dos padrões considerados normais para ela.

Benefícios para a saúde

Os benefícios do toque afetivo se expandem para medidas de saúde física, saúde mental e relações sociais.

Um estudo publicado em 2014 na revista Psychological Science sugeriu que o tampão de estresse fornecido por abraços compartilhados realmente tem um efeito protetor contra infecções respiratórias.

Além disso, dentre as pessoas que ficaram doentes, aqueles que receberam apoio emocional na forma de toques afetivos mostraram sintomas menos graves de infecção.

Outros estudos mostraram que, em casais românticos em que os parceiros compartilham abraços frequentes, as mulheres tendem a ter menor pressão arterial e frequência cardíaca, o que sugere que esse tipo de contato pode beneficiar o coração literalmente, não apenas metaforicamente.

Beijos românticos também ajudam a impulsionar o sistema imunológico, a pesquisa demonstrou. Quando nos beijamos, transferimos “80 milhões de bactérias por beijo íntimo de 10 [segundos]”, relataram os cientistas.

Isso pode parecer repugnante, mas é benéfico: essa troca microbiana age quase como uma vacina, familiarizando o sistema imunológico com potenciais novas ameaças bacterianas e fortalecendo sua eficácia contra um conjunto mais variado de patógenos.

Toque como analgésico

Finalmente, o toque é muito eficaz quando se trata de aliviar a dor física. Massagens terapêuticas podem ser uma ótima maneira de acalmar todos os tipos de dores, de dores de cabeça a dores nas costas.

No entanto, você não precisa necessariamente ir a um salão de massagens para experimentar os benefícios do toque que alivia a dor.

Dar as mãos ao seu parceiro será suficiente, dizem dois estudos publicados em dois anos consecutivos, ambos cobertos pelo Medical News Today.

O primeiro estudo – que apareceu na revista Scientific Reports em 2017 – mostrou que se dois parceiros se tocam e um deles experimenta dor leve, o toque realmente diminui a sensação de dor.

No segundo estudo – apresentado no início de 2018 na revista PNAS – a equipe observou o mesmo efeito em grupos de jovens casais quando eles estavam de mãos dadas.

“Nossas descobertas”, relatam os autores do estudo, “indicam que a retenção de mãos durante a administração da dor aumenta o acoplamento entre os cérebros em uma rede que envolve principalmente as regiões centrais do alvo doloroso e o hemisfério direito do observador da dor”.

De onde quer que venhamos, o toque é provavelmente um importante marcador de afeto. No século XVIII, o famoso poeta inglês John Keats escreveu: “O toque tem uma memória”. A pesquisa provou agora que esta imagem poética evocativa tem uma base científica: o toque tem uma memória, como se vê.

Um estudo conduzido por neurocientistas da Charité – Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha – mostrou que nossos corpos não apenas se lembram do toque, mas também podem se lembrar de vários tipos diferentes de toque simultaneamente.

“Um novo toque não apaga a memória de um toque anterior da memória de trabalho”, explica o principal pesquisador do estudo.

“Em vez disso”, continua ele, “memórias táteis, novas e antigas, podem persistir independentemente umas das outras, uma vez que a atenção de uma pessoa registra os toques.”

Parece que o toque tem um impacto mais poderoso em nossos cérebros e em nossos corpos do que poderíamos imaginar, por isso é importante estar plenamente consciente de como algo tão simples como um abraço pode alterar nossa percepção do mundo, nossa saúde mental e a dos outros.

Fonte: Blog Cenat Cursos e Medical News Today

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