A resolução de conflitos na Abordagem Centrada na Pessoa
Carl Rogers foi um psicólogo que muito contribuiu para o desenvolvimento da Psicologia Humanista no século XX, e era essencialmente um cientista, um pesquisador.
Ele pretendia responder uma questão que era: como se dá a mudança da personalidade através da psicoterapia humanista. Pode se objetar que esta concepção mudou ao longo do tempo, e que ele acabou reconhecendo a importância de cada indivíduo desenvolver o seu jeito de ser.
Mas num ponto temos que concordar: às vezes o indivíduo entra num círculo vicioso de comportamentos autodestrutivos, que tanto sob a perspectiva de outras pessoas não o estão conduzindo à autorrealização, como sob a perspectiva dele mesmo.
Um exemplo prático deste ponto é a drogadição, uma área com a qual eu trabalho, que está se tornando um problema de saúde pública cada vez mais sério e importante, e para o qual a ACP (Abordagem Centrada na Pessoa) não deu ainda contribuições consistentes.
Carl Rogers gravou muitas horas de sessões psicoterápicas em videotape, realizou muitas transcrições de sessões, realizou atendimentos rápidos diante de plateias de estudantes da ACP, realizou experimentação desde menores infratores até pacientes psiquiátricos; de sessões individuais até grupos de 800 pessoas.
Rogers buscava compreender o padrão subjacente que ocorria em mudanças na personalidade, em tratamentos bem-sucedidos na psicoterapia humanista, e com “tratamentos bem-sucedidos” eu me refiro não à uma mudança na essência do ser, mas à uma resolução de conflito entre o indivíduo e a realidade objetiva da sociedade.
Assim, eu, Lygia, neuropsicóloga e terapeuta da ACP em Atibaia, SP e Sheila, engenheira química e psicóloga, psicoterapeuta da ACP em Curitiba, Paraná, resolvemos nos unir para estudar e desenvolver um conceito.
Nossa ideia é que uma das questões essenciais para Rogers, como condição suficiente para uma boa relação terapêutica é a compreensão empática. Esta empatia tem sido tratada como uma capacidade de se colocar na pele de outra pessoa, e de se sentir como se fosse ela, diante da situação experienciada por ela.
Sempre ficou claro que seria impossível sentir o que um outro indivíduo sente pois o terapeuta é um outro indivíduo, que desenvolveu outra estrutura histórica, de sentimentos e pensamentos.
Aliás, este último ponto, o pensamento, tem sido negligenciado pela psicologia Humanista. No entanto, nossas experiências (minha e da Sheila) tem evidenciado que a matemática perpassa todas as questões fundamentais da existência, começando pelas ciências exatas, como a Química, Física e Engenharia, passando pelas ciências biológicas como a Medicina, Biologia e Ecologia e ciências humanas, como o Direito, Psicologia, História e Sociologia, entre outros.
Tudo estaria interligado e entremeado por Processos Lógicos, embasados na matemática. A matemática viria desde as proporções perfeitas na escultura e arquitetura grega, passando pela música, com as considerações pitagóricas sobre números e as tonalidades obtidas na corda de uma cítara, até a neurociência atual e com os complexos cálculos dos comandos do cérebro para se executar um simples ato motor.
Assim nós sustentamos que na Psicoterapia, o processo que subjaz a mudança na personalidade, que pode levar a pessoa à resolução do conflito com a realidade social, viria de uma capacidade desenvolvida pelo psicoterapeuta, através de sua formação teórica, e treinamento racionalmente programado (embora ocorra, algumas vezes, intuitivamente em pessoas que nem mesmo fizeram a formação em psicologia).
Esta formação do terapeuta o prepararia para reconhecer os padrões, os Processos Lógicos, que a pessoa desenvolveu por si mesma, ao longo de sua vida, para perceber, interpretar e reagir ao mundo. Se o terapeuta não empatizar com estes sentimentos e Processos Lógicos que o paciente estruturou para si ao longo de sua experiência de vida, por mais que esta “lógica” possa ser questionada, como nas interpretações delirantes dos processos psicóticos, a pessoa não poderá romper com os comportamentos disfuncionais que o levam à autodestruição.
É como se o paciente precisasse desenvolver um modo de funcionamento anárquico e entrópico, e se autodestruir (podendo destruir os outros também), se ele não puder ser, em primeiro lugar, compreendido em seus Processos Lógicos, para que só depois, ele mesmo possa fazer uma “virada” e encontrar por si mesmo, a solução do conflito. Acesse o texto na íntegra e saiba mais.