Como a atual pandemia pode aumentar o Transtorno do Estresse Pós-Traumático?
Pessoas totalmente isoladas em suas casas, muitas delas idosas, alterando completamente suas rotinas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Nos últimos meses, a sociedade passou a viver um mundo completamente novo e, principalmente, foi tomada pela angústia.
Medo de sair de casa, de ficar doente, de vir a morrer, de perder o emprego e de não conseguir pagar as contas em dia. Medo até de não conseguir comprar o que comer.
Acima de tudo, veio a solidão. Para preservar a saúde, muitos estão impedidos de se relacionar com os filhos, netos e amigos.
Ir à academia se exercitar, sair para trabalhar em serviços essenciais, fazer compras ou até mesmo deixar o lixo na rua, tornou-se um grande risco.
Por tudo isso, cresce a preocupação com a saúde mental.
Estudos mostram que indivíduos que passaram por situações de emergência em saúde pública podem apresentar sintomas de estresse em diferentes graus, mesmo após o fim da situação em questão.
Em alguns casos, pode ocorrer Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)
O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros.
Quando se recorda do fato, ele revive o episódio, como se o mesmo estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou.
Essa recordação desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais e os principais componentes observados são: sofrimento psíquico, prejuízo nas atividades diárias, comprometimento da qualidade de vida.
Tal patologia está mais comumente associada a cenários de guerra. Foi assim na Guerra Civil Americana, na Primeira e na Segunda Guerra Mundial, na guerra do Vietnã e, nos atentados do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono.
Contudo, há também relatos de TEPT em profissionais de saúde que estão na linha de frente ao combate a doenças infecciosas pandêmicas; em pacientes que apresentaram quadros graves por coronavírus; em pessoas que estão em quarentena e sem acesso a necessidades básicas e naquelas com medo da recessão econômica.
Diagnóstico de TEPT
O diagnóstico é dado quando há desenvolvimento de sintomas após a exposição a evento traumático que envolva ameaça de morte ou de lesão grave.
Pode haver manifestações como pesadelos e/ou lembranças involuntárias e angustiantes relacionadas ao evento, flashbacks/ rememorações do trauma, sofrimento e/ou reações fisiológicas intensas frente à exposição a quaisquer sinais que simbolizem ou que lembrem o evento traumático.
Ademais, frequentemente ocorre fuga de situações, de pessoas e de lembranças que de alguma forma se associem ao evento em questão.
Após o evento, podem ocorrer alterações no humor e na cognição do indivíduo afetado, como medo, pavor, raiva, desinteresse em atividades (incluindo trabalho), incapacidade de sentir emoções positivas (como felicidade), dificuldade de concentração, hipervigilância e surtos de raiva. Também são comuns alterações no padrão de sono.
Se mesmo entre aqueles que não fazem parte dos grupos de risco grande receio está presente, imaginem entre os que estão mais suscetíveis a contrair COVID-19, como idosos, pessoas com a saúde debilitada e profissionais de saúde.
O medo também se relaciona à dura realidade de saber que milhares de pessoas estão morrendo diariamente nesta guerra viral, e muitas vezes tal sentimento é fomentado por notícias falsas (geralmente sensacionalistas e alarmistas).
A diferença entre TEPT e uma reação normal ao trauma
Após um evento traumático, quase todo mundo experimenta pelo menos alguns dos sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Quando o senso de segurança e confiança é abalado, é normal sentir-se um pouco louco ou desorientado.
É muito comum ter pesadelos, sentir medo, e achar que é difícil parar de pensar sobre o que aconteceu. Essas são reações normais a eventos anormais.
Para a maioria das pessoas, no entanto, estes sintomas são de curta duração. Eles podem até durar vários dias ou mesmo semanas, mas eles gradualmente cessam.
Se a pessoa possui transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), os sintomas não diminuem e a pessoa não sente melhora. Na verdade, ela pode piorar a cada dia.
Uma reação normal ao trauma se torna TEPT quando a pessoa fica presa.
Após uma experiência traumática, a mente e o corpo ficam em estado de choque. Mas, quando a pessoa entende o que aconteceu e processa suas emoções, ela consegue sair da situação.
Com o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), no entanto, permanece em estado de choque psicológico. A memória do que aconteceu e os sentimentos sobre o assunto estão desconectados. Para seguir em frente, é importante enfrentar, sentir as lembranças e as emoções.
O que fazer para atenuar os efeitos de traumas?
A boa notícia é que medidas simples podem atenuar os efeitos da quarentena e a ameaça do surgimento de doenças psíquicas.
Estabelecer uma rotina é fundamental para que as pessoas consigam se organizar emocionalmente e percebam que dominam sua vida e seu tempo, podendo fazer suas próprias escolhas.
Recomenda-se assistir a filmes de entretenimento não agressivos, ler e realizar trabalhos terapêuticos e manuais, como crochê, por exemplo.
Além disso, especialistas dizem que esta é uma oportunidade para as pessoas se voltarem para si próprias e seus verdadeiros valores, colocando em evidência a empatia e o amor ao próximo.
De que maneira o médico trata o TEPT?
Buscar ajuda especializada também é fundamental nestes casos. Se não tratada, a gravidade do TEPT crônico frequentemente diminui sem desaparecer, mas algumas pessoas permanecem gravemente prejudicadas.
Como a ansiedade é muitas vezes intensa, a psicoterapia de suporte desempenha um papel importante. Os terapeutas devem ser francamente empáticos e compreensivos, admitindo e reconhecendo o sofrimento psíquico dos pacientes e a realidade dos eventos traumáticos. No início do tratamento, muitos pacientes precisam aprender como relaxar e controlar a ansiedade (p. ex., plena atenção, exercícios respiratórios e/ou ioga) antes que consigam enfrentar a exposição que tende a ser o foco do tratamento do TEPT.
O tratamento inclui:
- Terapia de exposição, em que o terapeuta pede à pessoa para imaginar que está em situações que a relembram de um evento extremamente perturbador ou pede para que ela se recorde do evento; por exemplo, o terapeuta pode pedir para que a pessoa imagine estar no parque onde ela foi atacada e continua a conversar com a pessoa, orientando-a durante esse exercício para que ela se sinta segura e calma (com o passar do tempo, isso ajuda muitas pessoas a se sentir melhor)
- Medicamentos antidepressivos, particularmente os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs)
- Medicação que pode ajudar a pessoa a não ter pesadelos
A Clínica Jequitibá Saúde Mental tem profissionais experientes e capacitados para ajudar você ou seu ente querido a superar estes momentos difíceis e também a lidar com questões mais específicas como o Transtorno do Estresse Pós-Traumático.
Fontes:
https://www.scielo.br/pdf/rbp/v25s1/a04v25s1.pdf
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-do-estresse-pos-traumatico/